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Maceió afunda: como décadas de alertas científicos da UFAL foram ignorados até a tragédia

Bebedouro é uma das regiões afetadas pela extração irregular do sal-gema 



Quando a ciência é negligenciada: a lição de Maceió sobre os riscos da mineração em zonas urbanas

Desde a década de 1980, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vêm alertando sobre os riscos geológicos da mineração de sal-gema realizada pela Braskem na cidade de Maceió. No entanto, apenas na última década seus avisos começaram a ser levados a sério.

Em 2010, um estudo internacional liderado por pesquisadores da Ufal, USP e UFRGS analisou dados de monitoramento do lençol freático da região. Publicado na prestigiada revista Geophysical Journal International, o artigo mostrou que a exploração do sal-gema pela Braskem estava provocando um aumento anormal do nível das águas subterrâneas. Esse crescimento da pressão no subsolo, alertaram, poderia causar o afundamento progressivo do solo na superfície.

No ano seguinte, os mesmos pesquisadores publicaram mais um estudo, dessa vez na Engineering Geology, aprofundando as projeções. Calculando os efeitos da mineração no longo prazo, estimaram que o fenômeno de subsidência poderia chegar a 1,5 metro em bairros próximos às minas. Um valor extremamente perigoso para construções e infraestrutura urbanas.

Porém, esses alertas científicos vinham sendo levantados já havia pelo menos três décadas. Na Universidade, professores pioneiros como Abel Galindo e José Geraldo Marques vinham demonstrando preocupação com a atividade extrativista desde a década de 80, bem antes das publicações internacionais. Apesar disso, suas advertências caíram no vazio na época, negligenciadas tanto pelas autoridades como pela própria população.

Em 2018, o temido afundamento do solo finalmente começou a se manifestar de forma contundente e inegável. Casas racharam, ruas se partiram. Bairros inteiros começaram a sumir sob a terra, colocando em risco centenas de famílias. Diante da gravidade da situação, a Braskem foi obrigada pelas autoridades locais a paralisar as atividades de mineração. Além disso, teve de providenciar a remoção emergencial dos moradores das áreas mais afetadas.

Nesse momento, em meio ao caos, os estudiosos da Ufal foram convocados novamente. Sua análise técnica foi fundamental para provar que os danos geológicos estavam diretamente relacionados à extração do sal-gema, responsabilizando definitivamente a mineradora pelo desastre. Em 2020, após longa batalha jurídica, a Justiça alagoana condenou a Braskem a indenizar as vítimas e a recuperar todo o dano socioambiental causado.

O caso trágico de Maceió servirá de lição para que, no futuro, as evidências científicas sejam levadas mais a sério quando o assunto é a exploração de recursos naturais em áreas urbanas. Mesmo que ignorados por anos, os esforços pioneiros dos pesquisadores da Ufal acabaram por salvar inúmeras vidas. Infelizmente, porém, muitos danos já estavam feitos e o prejuízo humano será irreparável para centenas de famílias maceioenses. Uma tragédia que poderia ter sido evitada se a ciência e a segurança da população tivessem sido priorizadas desde o início.
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Algumas informações adicionais sobre o caso do afundamento de solo em Maceió causado pela mineração:


A extração de sal-gema em Maceió é realizada pela Braskem desde os anos 1970, por meio de um processo conhecido como solubilização, no qual é bombeada água para dentro do subsolo para dissolver o sal e extraí-lo. Esse método acabou pressionando demais o lençol freático.

Estima-se que cerca de 80 mil pessoas tenham sido afetadas pelo afundamento do solo até agora. Os danos urbanos e sociais são enormes, com casas totalmente destruídas e bairros inteiros abandonados.

Em 2020, o Tribunal de Justiça condenou a Braskem a indenizar os atingidos em mais de 1 bilhão de reais. No entanto, parte das vítimas considera o valor insuficiente diante dos prejuízos materiais e emocionais.

Em 2021, pesquisadores publicaram novos estudos mostrando que os riscos de afundamento perdurarão por décadas após o encerramento da mineração, já que a pressão no lençol freático levará tempo para se estabilizar naturalmente.

Além da indenização, a Braskem foi obrigada pelo poder judiciário a elaborar um plano de recuperação ambiental da área, mas ainda há incertezas sobre sua viabilidade e eficácia a longo prazo.

O caso repercutiu internacionalmente e evidenciou os riscos da mineração em zonas urbanas densamente povoadas, quando não são adotadas as devidas precauções e é subestimado o impacto nos lençóis freáticos.

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(Foto -UFAL- Deriky Pereira)
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