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AR NEWS: Brasil, Maceió , de 2022
Carlos Alberto Montaner
Em 1850, o Congresso dos Estados Unidos aprovou por maioria esmagadora a Lei do Escravo Fugitivo. Os escravos que fugiam tinham que ser devolvidos aos seus donos imediatamente. Ninguém foi autorizado a ajudá-los. Quem ajudou um escravo fugitivo deve ser punido severamente, e quem o devolveu ao seu dono deve ser recompensado. Os escravos não podiam sequer ir ao tribunal. Eles não tinham direito. Do ponto de vista de hoje, o debate que antecedeu sua adoção é significativo. Era sobre direitos de propriedade. A lógica desses eruditos (as mulheres não votavam e não eram eleitas) baseava-se na tradição jurídica: a grandeza da nação dependia da segurança jurídica protegendo a propriedade. Escravos não eram pessoas. Eram objetos (os gregos os chamavam de "instrumentos falantes") e os objetos não têm direitos. Assim, qualquer senhor verdadeiramente patriota tinha que agir de acordo com a lei e devolver aquele "objeto" escuro e assustado ao legítimo proprietário de cujas mãos ele havia escapado.
Nesse contexto, vem à mente a história dos dois campeões de boxe que tentaram se abrigar no Brasil após os Jogos Pan-Americanos.
Seus nomes são Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara.
Eles queriam se mudar para a Alemanha, acompanhados por organizadores profissionais com quem mantinham contato secreto. Eles teriam sido boxeadores profissionais e, dada sua capacidade de lançar e receber socos, teriam feito milionários em menos tempo. Aparentemente, Fidel Castro, o dono dos meninos, falou pessoalmente com o presidente Lula da Silva e exigiu que ele cooperasse e devolvesse a mercadoria perdida. Lula, que entende a lógica dos escravistas, sentiu pena do velho e doente ditador. O pobre Fidel criou os boxeadores e os construiu com bons treinadores. Os negros eram dele. Então Lula enviou sua força policial para fazer seu trabalho.
Esta triste realidade , que parece uma anedota, revela a verdadeira natureza do regime cubano, a forma como Fidel Castro exerce sua autoridade sobre seus súditos e a natureza de suas relações com outras nações.
Logo após o "incidente", declarou que nenhum atleta cubano participaria das próximas competições internacionais. Estes estão ocorrendo nos Estados Unidos, e Castro teme um êxodo em massa de seus atletas. Para aumentar seu infortúnio, a Lei do Escravo Fugitivo foi revogada após a Guerra Civil Americana e os Estados Unidos não respeitam mais os direitos de propriedade. O presidente Bush não é Lula e não devolveria os ingratos desertores. Há apenas três anos, 50 dançarinos cubanos que viajaram para Las Vegas para encenar uma revista anunciaram seu desejo de serem livres e fazerem o que quisessem com suas vidas, e o pérfido Império permitiu que eles permanecessem nos Estados Unidos. Fidel Castro se sentiu roubado de seus bens. Gringos malvados !
Para Fidel Castro, Cuba é uma grande fazenda onde tudo o que existe ou cresce lhe pertence.
Porque ele é dono das vacas, abater secretamente uma vaca para alimentar uma família faminta é punível com 7 anos de prisão. Isso é mais do que a lei criminal permite para muitos assassinos. Ele também é dono das lagostas que rastejam lentamente pelo fundo das águas costeiras cubanas. Apanhar um lagostim para saciar a fome é um crime tão grave como outrora foi a caça furtiva dos recintos reais.
O mais difícil de entender é a cooperação mesquinha do presidente Lula da Silva com essa infâmia.
Ele não é supostamente o primeiro presidente da classe trabalhadora na América Latina? O líder que entende melhor do que ninguém a tragédia dos oprimidos?
Ele achava que a liberdade desses dois pobres boxeadores pretos não era tão importante? Poderia ser. Era assim que os escravos pensavam. Afinal, o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Isso foi em 1888. Cuba foi em 1886, o penúltimo país a libertar escravos. A mentalidade dos comerciantes de pessoas - quero dizer, de objetos – vive nos dois países.
Eu sabia que Fidel Castro era um desses traficantes de escravos. Não sabia que Lula também era.
Carlos Alberto Montaner
12 de agosto de 2007
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Com Agências
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