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Catalepsia não é a morte : O sofrimento do corpo e da alma no HGE


A postagem aborda um pouco da história da medicina quando descreve a maneira utilizada por médicos no século 19 que buscavam a certeza absoluta da morte devido ao terror que se tinha em ser enterrado vivo devido ao ataque cataléptico. Faz ainda uma pequena análise de situações impostas ao médico do século 21 , que mais lembram os primórdios da medicina.O dilema do convívio diário de uma dura realidade que é a falta de materiais básicos no auxílio ao diagnóstico médico no HGE . Revela com exclusividade trechos da reunião ocorrida em 2008 no HGE de Alagoas , demonstrando mais uma vez que os problemas existentes na instituição é de conhecimento dos mandatários há mais de dois anos e que nenhuma providência concreta para sanar as mazelas foram tomadas no período, colocando severamente em risco letal o cidadão Alagoano, como também o desempenho ético da medicina na instituição. Retrata o tema catalepsia com a visão de renomados especialistas da área.

Mário Augusto

História da Medicina (Confirmação da morte na Casa Mortuária por medo da catalepsia)

" Varias cidades de Alemanha existem certo estabelecimentos públicos chamados Caias mortuárias. Servem estes estabelecimentos para ahi se depositarem os mortos durante certo tempo para haver acertesa de que realmente a vida está extincta, e que os corpos começam a decompor-se, sendo portanto impossível a resurreição, e os casos que mencionámos no artigo sobre a catalepsia (•). Dura a demora dos cadáveres naquelle deposito obra de oito dias. A casa mortuária é, além disso, uma habitação muito bem arranjada e reparada: tem fogões que lhe conservam sempre uma temperatura tépida: as janellas teem cortinados que só deixam entrar uma luz branda, e o aceio do solho e paredes é o maior que é possível. A casa mortuária encerra uma dúzia de camas enfileiradas como no dormitório de um collegio , bem feitas e fofas. Ao pé deste quarto do deposito está sempre um guarda encarregado de vigiar se apparece o menor signal devida em algum dos cadáveres. Tem á mão tudo o que é necessário para, neste caso, acudir com promptos soccorros. Tomam-se alli as precauções com tal cuidado, que a um dos pés de cada cadáver se ata a corda de uma campainha quevae dar ao quarto do guarda: assim que ha um mínimo movimento do corpo, logo ha aviso de que entre aquelles cadáveres ainda ha alguam com vida. Haverá 40 annos que em Alemanha se começaram a estabelecer estes depósitos. Seria conveniente, ou antes necessário que em todos os paizes se seguisse tão bom exemplo, com que se preveniriam muitos casos desgraçados que se ignoram, porque é a terra quem os encobre ". (O panorama: jornal litterario e instructivo de Sociedade ..., Volumes 1-2 Por Sociedade Propagadora dos Conhecimientos Uteis (Lisboa 1837 (Texto Original))


O médico no século 21 vivenciando situações dos primórdios da medicina

Nos dias atuais não seria necessário toda a atmosfera bucólica criada no século 19 para se obter a certeza da morte.Hoje além dos conhecimentos científicos na medicina e a utilização de aparelhos que mostram a ausência de atividade elétrica no coração e a nível cerebral , a abiose poderia ser confirmada facilmente. Mais em algumas situações frequentes nas Emergências e principalmente em locais onde existem a falta de tecnologia básica para o digno exercício profissional ,as vezes somente o conhecimento técnico e científico naquele momento e a depender de inúmeros fatores que estejam associados não seriam suficientemente conclusivo para a constatação da morte .


Portanto o que se poderia fazer nessa dolorosa e angustiante hora de tomada de decisão ?

Diferente do nascer que vem acompanhado da felicidade , a morte é irmã da dor , e companheira inseparável da melancolia. Perder é um dos sentimentos que mais angustiam a humanidade !

Porém o tempo não para em uma emergência e se torna extremamente escasso, uma decisão tem que ser tomada,e urge o seu veredito ! Há vida ou não há ?

Então agora o que poderíamos fazer ? Você já se colocou mentalmente na situação descrita ?
E aí doutor o que você faria ?

Arriscaria a possibilidade de rasgarem todo um passado primoroso, ético e responsável construído ao longo de uma jornada de vida marcada sempre pelo zelo ao seu mister e que poderá ou não ficar maculado devido a omissaõ na cidadania cultuada por diversos algozes quando não propiciaram respiradores,oxímetros, desfibriladores e monitores cardíacos que iriam ajudá-lo e tomaria assim mesmo a sua decisão?

Acreditaria e somente agora veria que a exarcebação do seu atual dilema de certa forma pertence aos verdugos emplumados ,omissos e intocados que com maestria se colocam atrás de um bureau e uma bela pena que não consegue ao menos traçar pequeníssimas linhas que melhorem a vida de todos,e que vão se perpetuando dia após dia na proteção do manto sagrado de uma justiça que teima em não chegar a sua porta ?

Resignar-se seria a sua atitude diante da mísera oferta de condições de trabalho e no momento vivido a melhor conduta a tomar, seria acreditar que o domínio de seu aprendizado científico não depende de máquinas pois a lógica embasada no diagnóstico Clínico é suficiente para a sua decisão?

Ou concordaria com todas as opções citadas e não teria outra saída a não ser declarar :não existe mais a vida, afinal há presente no corpo os sinais clínicos de morte !

A vida realmente se mostra para você uma caixa de surpresa pintada com um cenário mórbido ! A realidade foi contrária a sua decisão !Porém você sabe que estava certo, porque naquele momento agiu dentro das normas técnicas,e portanto sua conduta foi a correta . Ecoa uma voz : foi o destino cruel com você,dizem assim aqueles que acreditam na fatalidade. Para os religiosos foi simplesmente um milagre que aconteceu,enquanto os céticos e ignorantes bradam imperícia e negligência. A voz dos sensatos trilha na análise de uma saúde falida ,faltando condições éticas e equipamentos para o trabalho , e permanesce no aguardo da medicina para uma explicação técnica do ocorrido, porém, infelizmente para você restou somente o sofrimento , mesmo estando com a sua consciência tranquila que somente os íntegros a possuem. Você então passa os dias a enfrentar o seu próprio dilema de sofia : De Vida no corpo e Morte na alma !

Clamem a Deus (para aqueles que professam a fé) para nunca terem que conviver no dia a dia de seu trabalho com uma situação rotineira, como a descrita . Esse é um pequeno esboço do sofrimento dos médicos que labutam no Hospital Geral do estado de Alagoas.


Fico angustiado e revoltado quando vejo leigos e alguns colegas tecerem comentários sobre algo que desconhecem , que não possuem a mínima competência para exprimir opinião técnica sobre patologias médicas. A maioria não sabem conduzir uma PCR ! Principalmente aqueles que vivem de teorias televisivas. Quem não vive o dia a dia de um hospital de emergência não sabe o quanto é angustiante desenvolver o seu trabalho principalmente com as condições inumanas costumeiras do único hospital público de Emergência de Alagoas !

Acusar é fácil .Principalmente quando o foco é no trabalho médico. Só que ao lado do ser humano médico, deveria sempre existir objetos inanimados impecáveis para o auxílio na arte médica(Um bom hospital,aparelhos,medicamentos,...) .

Os Alíbis criados para uma acusação , visam na maioria das vezes um único elemento, para se ter o " bode expiatório ". As regras da vida na maioria das vezes caminham para esse desfecho. É como a história do boi de piranha. Em um rio cheio de piranhas, escolhe um boi para atravessá-lo primeiramente, para em seguida a boiada seguir incólume as custas da morte do boi que foi primeiro e sofreu o ataque voraz dos pequenos canibais !

Na saúde não poderia ser diferente ! Somente em situações desagradáveis que se tornam públicas, álguem tem que ser o culpado pelo sistema !Um Sistema voraz, com apetite insaciável pelo poder de loucura que não mede esforços para criar raízes e se perpetuar na pompa que o cargo oferece.


O Relatório do HGE em 2008

Em 04 de novembro de 2008 aconteceu uma reunião com a Clínica Médica do HGE,e havia presente 14 clínicos, a chefia imediata e um diretor. O relatório é bastante contundente.Vou transcrever alguns parágrafos do mesmo e depois vocês leitores tirem as suas próprias conclusões.

" Comuniquei que as medidas que estão sendo trabalhadas para melhorar o trabalho da Clínica: (1) acrescer a escala em mais 7 clínicos. Depende da SESAU; (2) implantar a classificação de risco e a rede de referência e contra referência. Já em andamento; (3) implantar leitos de apoio HGE; (4) cobrar dos municípios uma atuação da rede adequada. Transmiti seus agradecimentos pelo trabalho dos clínicos (“espinha dorsal” do HGE)."

Da reunião:

1. O grau de insatisfação é extremamente alto entre todos os colegas;

2. Que é impossível manter a escala como ela está (com 3, 4, ou raramente, 5 clínicos). O ideal seria pelo menos seis (06) clínicos em cada horário M/T/N; E com o aumento do fluxo de pacientes talvez este número ainda seja insuficiente;
3.
Solicitaram que TODOS os plantões de fim de semana (Sábado e Domingo) sejam pagos na base de 12h pagando como 24h, como estão sendo feitos com a escala de Domingo por autorização da Direção. Ou pagar aos Clínicos Gerais de forma semelhante àquela que a Cirurgia Geral negociou e já está recebendo - R$ 1.000,00 por plantão – 24 horas (informação fornecida pelos Cirurgiões Gerais - sic);


5. Que a Coordenação/Direção deve ter maior agilidade quanto a resolução dos problemas de pessoal, principalmente quanto ao número de plantonistas da porta de entrada (seja VERMELHA ou AZUL) e intensivistas para as ÁREAS AMARELAS (1 e 2). Bem como é necessário Fisioterapeutas de plantão nas ÁREAS VERMELHA, AMARELA e AZUL, tal como nas UTIs;



16. Foi formada Comissão Permanente para solicitar/ providenciar:
a.
Solicitação de equiparação salarial dos plantonistas do HGE oriundos do HGE;
b. Para comunicação da situação hoje enfrentada pelos Clínicos Gerais ao: CREMAL, SINMED e Ministério Público;


19. Pacientes que deveriam estar por no máximo 12 a 24 horas na área Azul, continuam internados nestas áreas por dias e semanas;

Sugiro que:


2. Que a ÁREA AMARELA não pode ser assumida pelos médicos da Clínica Médica, pois, os cuidados a serem destinados àqueles pacientes devem ser feitos por médicos intensivistas visto que os pacientes com ventilação mecânica devem ter seus parâmetros avaliados/ alterados.....

9. Que tenhamos o Organograma e definição dos papéis de cada ator, dentro da Diretoria, Chefias e Coordenações para evitar arestas desnecessárias;

10. Que temos, direção e coordenações, que ter respostas mais rápidas da SESAU e do Governo do Estado, pois já deveriam ter sido previstas e tomadas antes da abertura do HGE, em relação ao pessoal;
11. Urge estudo urgente da lotação de todos os profissionais a disposição do Complexo e sua efetiva função desempenhada;
12. Que os Clínicos não poderão ficar cobrindo as falhas da escala com horas extras indefinidamente, pois trabalham em outros locais para ter uma renda menos sofrível, e, nas suas férias teremos um problema duplicado, bem como o questionamento em série de como estamos pagando as horas extras trabalhadas diferentemente da carga horária efetuada pelos outros profissionais, inclusive não médicos.


15. Que, de imediato, haja fornecimento de medicações como: Ciprofloxacina, Amoxacilina/Clavulonato, Ceftriaxone, entre outros, em suas apresentações oral ou intramusculares, para alta imediata de pacientes tão logo estejam estáveis, para tratamento domiciliar.



22. Requerer, oficialmente junto a SESAU, nome e endereço dos AMBULATÓRIOS 24 HORAS (Mini Pronto Socorro), número do telefone dos Diretores Médicos e Diretores Gerais, seus horários OFICIAIS de funcionamento, pois é grande o número de pacientes e/ou acompanhantes que referem: não ter médicos, estarem fechados (portas cerradas) ou serem informados pelos guardas e recepcionistas que “só” tem médico pela manhã, para que haja uma hierarquia, de fato, do que chega ao HGE, bem como iniciar uma avaliação interna, do que está vindo destas regiões para o HGE. Objetiva-se subsidiar a estruturação daquelas Unidades com a colocação de aparelhos de RX (tórax, pelo menos) e laboratório básico (EAS, Hemograma, BAAR);
23. Reforço na segurança dos médicos e funcionários do HGE, como já solicitado anteriormente à outra Direção, em decorrência de ocorrências de graves atritos entre a comunidade e nossos profissionais, em demandas, ainda que justas da parte da população, não podem ser resolvidas nem de imediato, e, nem da maneira requerida por eles;
25. POR FIM: solicitar, URGENTEMENTE, aos Senhores Governador e Secretário Executivo de Estado da Saúde peça publicitária que oriente as pessoas quando e em que situação o HGE deve ser procurado (entradas pela ÁREAS AZUL E VERMELHA).



Atenciosamente,







Catalepsia

Catalepsia é um distúrbio que impede o doente de se movimentar, apesar de continuarem funcionando os sentidos e as funções vitais (só um pouco desaceleradas). A pessoa fica parecendo uma estátua de cera. Se ela estiver sentada e alguém posicionar seu braço para cima, ela permanecerá assim enquanto durar o surto, afirma o neurocientista Ivan Izquierdo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O ataque cataléptico pode durar de minutos a alguns dias e o que mais aflige quem sofre da doença é ver e ouvir tudo o que acontece em volta, sem poder reagir fisicamente. As causas, porém, ainda são um mistério, apesar de não faltarem hipóteses e especulações. A origem do problema pode ser tanto externa como um traumatismo craniano , quanto congênita má formação em alguma região cerebral, diz o neurologista Vanderlei Cerqueira Lima, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Já o psiquiatra Marcio Versiani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que se trata de uma manifestação de esquizofrenia ou histeria, no segundo caso geralmente ligada a choques emocionais. Além disso, ocorre em pacientes com distúrbios do sono e pode, ainda, ser um tipo de manifestação de epilepsia, em que a pessoa fica imóvel em vez de ter convulsões.

Todo mundo já ouviu lendas tenebrosas sobre pessoas que teriam sido dadas como mortas e enterradas vivas durante um surto de catalepsia, mas isso é altamente improvável. Se, de fato, ocorreu algo parecido, só pode ter sido em um passado muito remoto. Hoje em dia existem exames e equipamentos que confirmam o óbito sem margem de dúvida, diz Vanderlei.
(Fonte: UFRJ,HAE,Abril.com)

O sofrimento do corpo e da alma no HGE
 
Pacientes no corredor em 17 de junho de 2010 ,deitados em colchonetes no chão !




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