A crise que atinge os médicos das UPAs do Jacintinho e do Tabuleiro do Martins é mais que um problema administrativo: é um sintoma grave de desrespeito estrutural aos profissionais que sustentam, diariamente, o atendimento emergencial da população alagoana. O novo relato do Sinmed/AL, após reunião com a categoria, expõe uma realidade que se repete e se agrava: meses de salários atrasados, pagamentos fracionados e a total ausência de garantias mínimas de estabilidade financeira.
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| Reunião no SINMED de Alagoass |
A empresa Help Serviços Médicos, contratada pela Insaúde — responsável pela gestão das unidades — pagou apenas metade dos vencimentos de agosto e setembro. O restante, bem como os salários completos de outubro e novembro, segue em aberto. É inadmissível. Nenhum trabalhador deveria exercer suas funções sob tamanho grau de incerteza, e menos ainda profissionais que lidam diariamente com vidas, pressão, riscos e sobrecarga.
"A diretoria do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed/AL) reuniu-se, na noite da terça-feira (25), com profissionais das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Jacintinho e do Tabuleiro do Martins para tratar dos sucessivos atrasos salariais que afetam a categoria."
Quando médicos precisam se reunir em busca do básico — receber pelo trabalho já realizado — algo está profundamente errado. A palavra utilizada pela categoria, “insustentável”, não é exagero: é diagnóstico preciso. A instabilidade financeira afeta não apenas os profissionais, mas a própria qualidade do serviço prestado, pois equipes desmotivadas, preocupadas e desvalorizadas acabam impactadas emocional e operacionalmente.
Diante de tamanha negligência, a atuação do Sindicato ao acionar juridicamente a Secretaria de Estado da Saúde é necessária e urgente. O governo estadual, enquanto ente contratante e responsável pela política pública, não pode se esquivar: garantir a solvência financeira e a regularidade dos pagamentos é obrigação, não concessão.
O que está em jogo não são apenas contracheques atrasados, mas a manutenção de um sistema já fragilizado. O poder público precisa assumir responsabilidade direta e imediata, cobrar a gestão responsável das organizações contratadas e assegurar que episódios como esse deixem de fazer parte da rotina da saúde em Alagoas.
Profissionais essenciais merecem respeito, previsibilidade e condições dignas de trabalho. E a sociedade, que depende deles, merece um sistema que funcione. É hora de tratar o problema com a seriedade que ele exige — e de romper, definitivamente, com a normalização do atraso e da desorganização na saúde pública.