A resposta do Brasil à pandemia do COVID-19 ainda não é forte o suficiente.
A falta inicial do Brasil de uma política de fronteiras robusta ou de um programa de distanciamento social , de uma quarentena e isolamento social supervisionados e obrigatórios para viajantes que chegavam(principalmente no período do carnaval) e contatos de casos documentados , dos portadores da COVID-19 ,prejudicou nossa capacidade de conter a epidemia o mais rápido possível. Agravando mais a situação , temos um presidente que alheio as recomendações da OMS e do seu próprio Ministro da Saúde,desqualifica toda e qualquer ação tomada na saúde visando a contenção e a disseminação em território nacional.Seria redundante tecer comentários sobre essa conduta,minimamente insana,já que a mesma é de pleno conhecimento mundial.
Se o principal objetivo de nossa resposta é apenas tentar aplainar a curva epidêmica para reduzir a extensão em que os hospitais ficam sobrecarregados, fracassaremos no Brasil se não houver correções urgentes em pontos falhos. Outro objetivo muito importante é reduzir a porcentagem da população que será infectada, que foi estimada entre 10% e 60% se houver contenção inadequada, resultando em um grande número de mortes. Lições de outros países e observações recentes precisam ser urgentemente incorporadas à nossa estratégia nacional.
Achatar a curva - Em verde ficando em casa, não satura o sistema de saúde .Em vermelho sem o distanciamento social,há saturação do sistema de saúde público e privado |
Se as pessoas continuarem saindo,passeando se encontrando na praia,bailes,festas,em bares ,fazendo tudo que em dias de normalidade realizam , os números de infectados irão gradativamente aumentar até explodir e saturar os serviços de saúde impossibilitando atendimentos e assistência para aqueles que mais precisam. Os hospitais não atendem somente COVID-19,porém as mais diversas patologias ,desde a uma simples gripe, a situações de extrema emergência,como :Infarto ,Embolia Pulmonar,Estado de mal asmático,acidentes etc .
Se espalhar gradativamente os casos ao longo do tempo, significa que as pessoas que desenvolvem formas mais graves da doença e que precisam de hospitalização terão acesso a ela.
Até agora, dois exemplos claros de respostas bem-sucedidas aos principais surtos de COVID-19 vêm da China e da Coréia do Sul. A resposta altamente eficiente da China, que incluiu o que pode ser considerado "medidas draconianas", dificilmente será replicada no Brasil. No entanto, a Coréia do Sul democrática conseguiu controlar amplamente sua epidemia com uma abordagem agressiva, que incluiu testes extensivos para encontrar casos, rastreamento de contatos extremamente detalhado, além de quarentena supervisionada obrigatória com multas por infrações de até US $ 2.500. Infelizmente o Brasil só quer testar alguns grupos,e por isso possui a ridícula marca de 296 pessoas testadas por cada 1 milhão!
Brasil,somente 296 testes por cada 1 milhão de habitantes |
As evidências convincentes de que os casos poderiam ser contagiosos por dias antes de desenvolverem sintomas,destaca mais uma falha no programa anterior do Brasil de permitir que pessoas que retornavam de países considerados "em risco" se auto-monitorassem quanto a sintomas, sem supervisão e sem auto-isolamento.Devido a facilidade de disseminação do coronavírus ,o que deveria ter existido era o pensamento que todas as pessoas provenientes do exterior ,seriam potenciais disseminadores virais,não somente daqueles países enumerados pelo MS
As medidas de controle de fronteira que foram anunciadas tardiamente, deveriam se fosse no início, ajudar a conter o fluxo de viajantes infectados que chegavam ao Brasil, mas pouco fariam para achatar a curva de nossa epidemia sem o uso de estratégias de mitigação mais fortes, como a aplicação de medidas de distanciamento social e a quarentena obrigatória supervisionada facilitada pela adoção de serviço de mensagens curtas de celular e com o apoio dos profissionais do Programa de Estratégias da Saúde da Família. A quarentena demonstra ser mais eficaz do que o auto-monitoramento de sintomas de infecções em que a transmissão pode ocorrer antes que os pacientes sejam sintomáticos. No entanto, o Serviço de quarentena do Brasil provavelmente precisa de centenas de funcionários adicionais em todo o país , e para fazer isso, nada melhor do que utilizar os experientes profissionais do PSF.
A recomendação é só procurar uma unidade de saúde quando os sintomas do novo coronavírus forem bem claros
Essa recomendação pode até ser aceitável para a população que possui um melhor grau de discernimento e cultura,mas infelizmente a maior parte do nosso povo ainda vive no apagão da cidadania(falta de moradia,saneamento básico,escolas etc) .Para um grupo especial,essa orientação duplica o risco de vida : (Diabéticos insulino dependente e tipo II,HAS,cardiopatas,imunodeprimidos ,portadores de HIV,de doenças auto-imunes etc), e por esse motivo talvez não seja esta a melhor opção a ser tomada.
Genericamente , para uma melhor compreensão do meu pensamento ,mas sem entrar em detalhes fisiopatológicos já que em outras postagens realizadas no blog há explicações detalhadas ,irei apenas citar o exemplo nos pacientes Diabéticos.
Recentemente no twitter realizei um breve comentário sobre a minha preocupação em relação a esses pacientes que facilmente descompensam ao mínimo sinal de um processo infeccioso. Em atendimentos de emergência pude observar o quão é comum os pacientes chegarem com hiperglicemias ou mesmo em quadro de coma por descompensação diabética ,onde o gatilho foi uma infecção pulmonar,urinária,de pele (erisipela),um pé diabético(necrose de extremidades ), ou qualquer outra patologia, até mesmo por um processo de influenza .
O gov tem q rever esse processo,e orientar melhor a população!É preciso utilizar e ampliar PSF,c a finalidade de realizar a cada 48h visitas domiciliares,nos pacientes acometidos p COVID. A demora no diagnóstico das complicações secundárias ao processo viral ,aumenta a letalidade— AR NEWS (@AlagoasReal) March 30, 2020
Em decorrência dessa observação creio que orientar de forma genérica sem priorizar os grupos de risco para COVID-19 de só procurarem uma unidade de saúde quando os sintomas do novo coronavírus forem bem claros, ou mesmo instituir a quarentena ( separar as pessoas que podem ter sido expostas a esse novo coronavírus para ver se ficam doentes ou não), ou o isolamento ( uma maneira de separar uma pessoa já doente das pessoas que não estão doentes), sob minha ótica é extremamente temerária ter que adotar essa conduta inicial e mais difícil será prever o desfecho final. Talvez muitos casos graves estejam ocorrendo devido a essa maneira(outros fatores estão presentes) de abordagem "profilática" instituída inicialmente.Procurar somente uma unidade de saúde quando a febre for persistente e alta,associada a uma tosse persistente e a presença de um certo grau de insuficiência respiratória, é desperdiçar muito tempo principalmente nos portadores das patologias acima citadas.
Como sugestão as equipes de ESF (Estratégia da Saúde da Família) poderiam realizar visitas a cada 48h com intuito de reavaliar esses pacientes em sua casa .Conheço bem já que estive por 22 anos a frente de uma equipe da ESF. Fácil e extremamente eficaz, já que agentes comunitários conhecem perfeitamente a sua área e suas famílias . Havendo intercorrência, o médico e/ou a enfermeira seriam solicitados para uma decisão mais acurada. Hoje com a facilidade tecnológica esses dados colhidos na visita ( Em tela de um paciente diabético, a glicemia,Tensão arterial,temperatura,Frequência respiratória,oximetria etc) seriam inseridos em um programa e automaticamente os dados estariam na rede a disposição do médico responsável pela equipe. Adotando essa rotina de trabalho o médico poderia intervir prontamente nas outras comorbidades associadas ao processo infeccioso do provável caso de coronavírus ou não Ex( prescrição de antibióticos ,correção da insulinoterapia ou da droga oral para o diabetes,ou mesmo adotar o uso de um antiviral mais antibióticos (EX Oseltamivir,associado a azitromicina e uma cefalosporina de segunda geração( cefaclor) além de prescrição de outros medicamentos conforme a patologia em curso requeira ).
Precisamos aumentar rapidamente os testes de diagnóstico.
A testagem para coronavírus pode ser a chave para vencer o surto pandêmico no Brasil
Quem está doente por coronavírus SARS-COV-2 ?
É exatamente o tipo de coisa que os profissionais de saúde pública gostariam de saber.
Quem está doente?
Quem está grave?
Qual a velocidade da propagação da doença?
Quem está doente?
Quem está grave?
Qual a velocidade da propagação da doença?
Com base no quão limitado o teste de diagnóstico tem sido no Brasil,provavelmente o quadro deva ser bem pior do que o relatado oficialmente. É difícil definir um número preciso , mas com base na análise que fizemos, parece que esse número provavelmente está na casa das dezenas de milhares, dada a rapidez com que o vírus se espalha.
Casos e mortes no Brasil 14/04/2020 03h48 |
Os obstáculos para obtenção dos testes para diagnóstico da COVID-19 ,de EPIs e ventiladores artificiais incluem disponibilidade limitada pelos fornecedores comerciais e também uma escassez na produção nacional e mundial .
As mensagens têm sido enganosas em relação a "quem testar".
Deve-se esclarecer que, embora o acesso limitado ao teste possa impossibilitar o exame imediato de pessoas com sintomas leves compatíveis com COVID-19, é essencial que esses indivíduos sejam testados em um futuro próximo, se quisermos ter sucesso no controle de propagação adicional. A modificação do protocolo de rastreamento de contatos é necessária para incluir testes de contatos de casos antes do desenvolvimento dos sintomas, conforme recomendado pela OMS.
As mensagens têm sido enganosas em relação a "quem testar".
Deve-se esclarecer que, embora o acesso limitado ao teste possa impossibilitar o exame imediato de pessoas com sintomas leves compatíveis com COVID-19, é essencial que esses indivíduos sejam testados em um futuro próximo, se quisermos ter sucesso no controle de propagação adicional. A modificação do protocolo de rastreamento de contatos é necessária para incluir testes de contatos de casos antes do desenvolvimento dos sintomas, conforme recomendado pela OMS.
O Brasil também precisa de um aumento na equipe de saúde pública para acomodar o crescente aumento de afastamentos dos profissionais da saúde por terem adquirido a doença,ou mesmo pelos óbitos que estão ocorrendo e os que virão. Será necessário um aumento do financiamento direcionado aos serviços de saúde pública e distanciamento social, quarentena associada a conscientização da população em relação ao auto-isolamento se quisermos seguir o plano de resposta similar ao da Coréia do Sul.
É necessário a criação de forças-tarefa coordenadas pelo governo federal- MS da saúde(com representantes de cada ente federativo,médicos especialistas,fisioterapeutas,enfermagem,Ministério Público,Conasems,CFM,participação do congresso,STF etc) e um financiamento substancial com a finalidade de liderar esforços para garantir recursos humanos adequados, espaço para leitos em hospitais e unidades de terapia intensiva, ventiladores, equipamentos de proteção individual, swabs, instalações para abrigar e apoiar aqueles que estão infectados, mas que não precisam hospitalização e cuja moradia é inadequada para isolamento domiciliar. Como sugestão o governo poderia requisitar prédios públicos abandonados,galpões,escolas,hotéis etc)
É necessário a criação de forças-tarefa coordenadas pelo governo federal- MS da saúde(com representantes de cada ente federativo,médicos especialistas,fisioterapeutas,enfermagem,Ministério Público,Conasems,CFM,participação do congresso,STF etc) e um financiamento substancial com a finalidade de liderar esforços para garantir recursos humanos adequados, espaço para leitos em hospitais e unidades de terapia intensiva, ventiladores, equipamentos de proteção individual, swabs, instalações para abrigar e apoiar aqueles que estão infectados, mas que não precisam hospitalização e cuja moradia é inadequada para isolamento domiciliar. Como sugestão o governo poderia requisitar prédios públicos abandonados,galpões,escolas,hotéis etc)
A digitalização rápida de dados globais pode garantir que a experiência de outros países informe e atualize regularmente o plano de resposta do Brasil. . Mesmo que esse objetivo não seja bem-sucedido, ele adquirirá pelo menos um tempo precioso que pode permitir o desenvolvimento de medicamentos ou vacinas e melhorar o acesso a suprimentos críticos.
Aqueles que têm fortes preocupações em relação às conseqüências negativas para os direitos humanos devido a essas medidas de mitigação e contenção devem olhar mais de perto a situação atual na Itália, Espanha e USA. Certamente, os direitos dos Brasileiros que correm maior risco de ficar gravemente doentes ou morrendo também precisam ser considerados. Nossa atual curva epidêmica sugere que poderemos terminar em uma situação semelhante à da Itália nas próximas semanas, a menos que sejam tomadas medidas importantes para mudar o rumo.
A relutância do governo federal em adotar medidas disruptivas até muito recentemente, reflete uma séria subestimação da gravidade dessa pandemia( postura ainda adotada pelo Presidente Bolsonaro). Os custos iniciais para a sociedade e a economia devido a uma estratégia abrangente de contenção são consideravelmente menores do que os relacionados a um surto não controlado que exige quarentena comunitária em massa e mesmo assim com explosão de óbitos no país. Os benefícios das importantes iniciativas de desenvolvimento de vacinas e tratamentos com medicamentos provavelmente durem meses ou anos. O governo do Brasil precisa fazer mais e fazê-lo agora para o bem de todos.
Por hoje é só!
Maceió,14 de abril de 2020
Mário Augusto
#FiqueEmCasa
ATENÇÃO
Os artigos do Blog Alagoas Real , tem por objetivo a informação e educação em relação a temas da medicina. As fontes consultadas são todas originárias de Universidades,Pesquisadores,e sites oficiais relacionados a saúde. Mesmo assim, eles expressam apenas e tão somente orientações gerais. As informações não devem, de forma alguma, ser utilizadas como um substituto para o diagnóstico e/ou tratamento de qualquer doença sem antes a consulta de um profissional médico.