A desconfiança dificulta a campanha de vacinação contra a febre amarela no Brasil

Uma criança grita quando recebe uma vacina contra a febre amarela em um posto de saúde pública criado nos arredores de São Paulo, Brasil,  março de 2018. (AP Photo / Andre Penner)


"Eles inventam outra coisa para que os brasileiros gastem seu dinheiro".

A vacina contra a Febre Amarela é gratuita em postos de saúde pública em todo o país, mas a suspeita de muitos de que alguém deve lucrar em algum lugar é típica e acompanha os altos níveis de desconfiança dos brasileiros . 

A baixa confiança nas instituições do Brasil em meio a uma série de escândalos de corrupção, uma campanha de comunicação caótica promovendo a vacina e a decisão do país de administrar doses parciais (fracionadas) para esticar suprimentos contribuem para rumores de que a vacina é uma fraude, fraca ou até mesmo perigosa.

A atual atmosfera de incerteza e rumores em torno da vacina é susceptível de tornar o último 20 por cento necessário para imunizar a população, muito difícil de alcançar, dificultando com isso os esforços da maior nação da América Latina para conter o maior surto de febre amarela em mais de três décadas.

A reticência poderia até levar a um surto sustentado nas grandes cidades do Brasil. O Brasil não tem um surto urbano desde 1942.

"Se temos um número maior de pessoas infectadas com febre amarela e o mosquito Aedes aegypti começa a se infectar e transmitir a doença, o atual surto pode tornar-se um ciclo urbano", disse Luiz Antonio Teixeira Jr., secretário de saúde do estado do Rio de Janeiro. "Tudo o que estamos fazendo é garantir que não tenhamos febre amarela urbana".

A febre amarela tem sido endêmica em grandes partes do Brasil, mas tem avançado nos últimos anos e este é o segundo surto em dois anos em locais onde as vacinas para a doença não eram rotineiras. Durante o surto 2016-2017, mais de 770 pessoas foram infectadas após quase uma década, durante as quais o Brasil via menos de 10 casos por ano. No surto atual, já foram confirmados 846 casos, dos quais 260 morreram. O surto está sobrecarregando o sistema de saúde brasileiro logo após um grande surto de Zika, que foi associado a defeitos congênitos severos em bebês nascidos de mães infectadas.

Embora os rumores às vezes tenham girado em torno de campanhas de vacinação anteriores, o aumento do serviço de mensagens no WhatsApp está ampliando a desinformação como nunca antes, disse Igor Sacramento, pesquisador da Fiocruz, o principal instituto público de pesquisa do Brasil.

O WhatsApp " tem uma característica fundamental pela forma como circulamos informações, notícias, etc.", disse Sacramento, que trabalha no laboratório de comunicação de saúde do instituto. Uma vez que as mensagens do WhatsApp provêm de pessoas conhecidas pelos destinatários, eles colocam com isso um alto valor nas informações compartilhadas lá, e isso significa que as pessoas geralmente aceitam sem verificar a fonte e a veracidade, disse Sacramento.

Um boato frequente no WhastApp, por exemplo, diz que uma mutação no vírus da febre amarela tornou ineficaz a vacina, citando um estudo publicado pela Fiocruz. Isso não é verdade, e o instituto emitiu uma declaração dizendo que mutações na doença não têm impacto na eficácia da vacina.

A desinformação já circulou entre os profissionais de saúde, alguns dos quais criaram resistência a vacinação com a dose parcial, disse Ana Goretti, coordenadora interina do programa de imunização no Ministério da Saúde. Em resposta, o ministério e todas as associações médicas do Brasil estão preparando uma declaração que reitera a segurança e eficácia da dose fracionada.

Os esforços de vacinação também foram caóticos. No início deste ano, os brasileiros encontraram horas de espera em alguns postos de saúde antes da participação ter caído precipitadamente. Muitas pessoas do lado de fora de um posto de saúde no Jardim Miriam queixaram-se do atendimento . Uma mulher disse que seu filho foi vacinado sem apresentar um cartão de vacinação.

A superação das preocupações com a vacina é particularmente importante porque a febre amarela não parece estar contida no seu habitat habitual, no interior mais selvagem do Brasil. O Ministério da Saúde está mesmo considerando estender a vacinação de rotina a todos os brasileiros e já decidiu oferecer vacinação a todas as crianças a partir deste ano, disse Goretti.

O ministério e os departamentos estaduais de saúde estão usando o Twitter e Facebook para promover a campanha de vacinação e compartilhar links para informações sobre a vacina e a doença. Membros da equipe de mídia social do ministério também responderam a algumas preocupações na página do Facebook do ministério. 

Os rumores assustaram a família de Manoel da Silva. O aposentado de 57 anos disse que suas crianças e sua esposa estão recusando-se a ser vacinadas, citando histórias de pessoas que morreram pela vacina e preocupações com as doses parciais.

"Há muitas coisas na internet", disse Silva, que vive nos subúrbios do sul de São Paulo. "Eles pensam que é uma fraude porque é fracionada".

Os cientistas expressaram confiança em que a dose de um quinto funciona e a Organização Mundial da Saúde disse que pode ser usada em emergências. Ainda não está claro quanto tempo dura a proteção. Funcionários brasileiros dizem que eles têm dados - em breve serão publicados - mostrando que a vacina tem efeito pelo menos por oito anos.

A vacina contra a febre amarela, como todas as vacinas que utilizam vírus vivos, pode causar reações adversas ou mesmo fazer você ficar doente com uma doença semelhante à febre amarela. Susan McLellan, professora de doenças infecciosas na University of Texas Medical Branch, diz que a vacina contra a febre amarela pode até causar mais doenças associadas à vacina do que outras vacinas contra vírus vivos.

Mas "em uma situação de epidemia, em um cenário de alto risco, é muito mais seguro tomar a vacina do que ter a doença", disse McLellan, que até recentemente era a diretora da Clínica de Viagem da Universidade de Tulane.

Da Silva, cuja família está resistindo a ser vacinada, disse que ele também teve preocupações, mas optou por tomar .



"Eu escutei sobre as pessoas ficando doentes" após a administração da vacina, "Mas se um mosquito me morde, já estou em risco" disse o Sr. Manoel da Silva.



Editado e traduzido
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Texto CTV News

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