"..Gestão de clientelista, coronelista ... A OAB virou trampolim para um projeto político conservador"

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A eleição da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), que costuma ter a voltagem de um convescote de bacharéis, virou caso de polícia e uma disputa partidária supostamente entre esquerdistas e conservadores.

A disputa foi parar na polícia porque o pré-candidato Alberto Toron pediu a apuração de quem disparou uma série de e-mails em que é acusado de usar o mensalão para aparecer na mídia e diz que ele vai utilizar a ordem para legalizar a maconha. Toron considera as mensagens difamatórias --o que é crime.

A OAB-SP é a maior seção do país. Tem 260 mil advogados ativos e uma receita anual de R$ 300 milhões, similar ao orçamento de Jaú (SP), cidade de 120 mil habitantes. A eleição é em novembro.

Difamação é das acusações mais leves que Toron faz à diretoria do OAB. Ele chama a atual gestão de clientelista, coronelista e diz que a ordem foi sequestrada por um projeto pessoal de Luiz Flávio D'Urso (PTB). D'Urso presidiu a OAB por nove anos e é candidato à vice-prefeito de Celso Russomanno (PRB).

"A OAB virou trampolim para um projeto político conservador", afirma.

Toron já foi filiado ao PT, diz que era coisa da juventude, mas é considerado o representante do partido na disputa. Defende petistas, como o deputado João Paulo Cunha (PT) no julgamento do mensalão, e tem o apoio de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça de Lula.

Ele é um dos quatro candidatos que faz oposição a Marcos da Costa, um tributarista que foi vice de D'Urso e é candidato da continuidade. "Se o projeto é conservador, por que Toron ficou 80% do tempo com a gente?", pergunta.

A oposição é unânime na crítica de que a ordem foi tomada por um grupo.

"A OAB virou um clubinho fechado", diz Roberto Podval, um criminalista que já defendeu integrantes do MST e diz ter o apoio de setores petistas que não apoiam Toron.

"Ligar a OAB a um partido político é acabar com a ordem", diz Ricardo Sayeg. Para ele, a ordem deve voltar a ter importância institucional.

"A OAB está perdendo seu papel histórico por omissão", diz Rosana Chiavassa, citando como contraexemplo à atual gestão o pedido de impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992.

Podval confirmou à Folha que foi procurado por Thomaz Bastos para apoiar Toron. Seria, na avaliação de petistas, a única forma de derrotar o grupo de D'Urso.

Ele diz que não atendeu o pedido por causa do passado de Toron. "Ele foi para a oposição porque acabou excluído do grupo de D'Urso", diz.

Da Costa tem a mesma versão: Toron apoiou a atual gestão por seis anos e abandonou-a porque queria continuar no Conselho Federal da OAB e não foi atendido.

Toron classifica a versão de "mentirosa". Afirma ter abandonado o grupo porque D'Urso queria agradar outros advogados e indicou os filhos de Rubens Approbato e de José Roberto Batochio para o conselho federal da ordem.

Da Costa diz que essa animosidade faz parte do processo político, mas desqualifica a acusação de que a OAB foi tomada por um grupo. Diz ter o apoio de 220 das 226 subseções que funcionam em cidades do interior e regiões de São Paulo. "Não é um grupo conservador. Tem advogado de todos os partidos que me apoiam", afirma.

Chiavassa diz que esse apoio decorre de um "absurdo ético". O presidente pode fazer campanha mesmo sendo candidato à reeleição. "A OAB quer dar exemplo de ética aos políticos e não respeita a lei eleitoral. O presidente não poderia continuar no cargo e ser candidato", diz

A eleição da OAB é como a de presidente dos EUA, segundo a assessoria da entidade: o candidato não precisa deixar o cargo na campanha.

Editoria de arte/Folhapress 

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