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Cultivar a solidariedade humana

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A ANMP está vivendo o grande momento do aqui e agora



Enquanto o governo propõe a reestruturação da nossa carreira, a valorização dos nossos serviços prestados e a relevância que temos na avaliação e controle da saúde do trabalhador, nós, peritos médicos, também precisamos reestruturar, interna e psicologicamente os procedimentos pertinentes a função pericial. Refiro-me principalmente a postura, ou seja, a maneira como enxergamos e tratamos o segurado.



A visão que tenho da atual e antiga interação existente entre nós, peritos médicos, e o segurado da previdência social é a mesma, mal comparando, o que a dupla antagônica representada por Tom e Jerry em seu desenho animado. De nossa parte algumas vezes pensamos que o periciado quer nos aplicar um engodo, fraudar a Previdência. Às vezes nos falta um olhar amoroso e compreensivo com aqueles que, nervosos e irritados com a demora do atendimento e com a expectativa de ter seu pedido de beneficio ou aposentadoria indeferido, criam, no seu coração, um ódio desnecessário pelo profissional que o atende.

O segurado vive estressado com chefes antipáticos, ganha um mísero salário num emprego que não atende às suas expectativas e o faz por necessidade ou baixa escolaridade, entre outras síndromes sociais... Ele está com um mal que não pode ser medido, dosado em laboratório nem comprovado através de exames de alta complexidade, palpação ou ausculta. É a doença da alma.

E não adianta dizer que isto é só um problema social, pois na própria definição da OMS “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Sendo este um direito fundamental da pessoa humana dotada não apenas de uma estrutura anatômica, mas de sentimentos diversos (alegria, prazer, tristeza, dor, etc.). Ao parecer indiferente a tudo isso, o perito médico numa avaliação mecânica não deveria negar um beneficio baseado apenas na preocupação econômica em onerar o erário público nem na sua estatística de trabalho rígido, ao elaborar tal ato.

Cultivar a solidariedade humana, procurando entender a real necessidade psicogênica ou física daquele ser que sofre tanto quanto nós as consequências dos desatinos provenientes da malversação dos recursos públicos, deve ser o nosso norte.

Entre outros desmandos, a Ponte Rio - Niterói foi construída com recursos da arrecadação da Previdência Social. Na época, estava sobrando dinheiro arrecadado para aposentadorias e benefícios dos segurados e resolveram gastar com esta e outras obras que estão agora espalhadas por aí. E hoje o governo tenta resolver estas questões criando novas regras, novos cálculos econômicos sobrecarregando as aposentadorias e resultando num mísero salário para os segurados.

Quando um segurado morre em busca de seu direito, em casa ou nas dependências de um Posto de Beneficio, a mídia critica os peritos médicos taxando-os de desumanos e outros adjetivos pejorativos. E, confesso que algumas vezes têm razão de se revoltarem contra a atitude de alguns profissionais que fazem uso de um sistema com modelo ultrapassado. E não é só a imprensa: o INSS vem a público repudiar estes acontecimentos dizendo que esta prática não faz parte da política adotada pelo Órgão.

Ao observamos melhor veremos que o Governo Federal quer mais é distribuir renda, a exemplo da bolsa família, bolsa escola, auxilio moradia, vale gás, distribuição de medicamentos genéricos (através do programa Farmácia Popular), sorriso amigo, auxílio-maternidade entre outros que estão vindo por aí, como o Brasil Carinhoso. Não que eu seja contrária a tudo isto. Muito pelo contrário, penso que não deveríamos continuar usando um modelo antigo, organicista e cartesiano aprendido nas antigas Faculdades de Medicina para dificultar a concessão de benefícios com o fim último de preocupação com o Erário Público, diminuindo o déficit da Previdência. O que ganhamos com isso?

Vamos aproveitar o momento de mudanças para repensar essas atitudes. Não estou aqui insinuando que devemos (a exemplo dos médicos terceirizados e muito bem remunerados) distribuir benefícios e aposentadorias sem critério médico, mas que tenhamos empatia com nossos verdadeiros patrões, aqueles que realmente pagam nossos salários e motivo maior de existirmos como peritos que são OS SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.

Infelizmente, dentro desse modelo arcaico e arrogante de trabalhar, perdemos dois colegas assassinados pelas mãos do ódio e da vingança daqueles ignorantes desesperados que não valorizam a vida humana. Mas espero que eles não tenham morrido em vão. Suas vidas não foram ceifadas pelo mau uso da profissão e sim pelo sentimento de ira, rancor e antipatia que os segurados nutriam dentro de seus corações, e que por tal ato, vão responder criminalmente.

Concluo aqui, propondo que, aproveitando esse momento ímpar de reestruturação de nossa carreira por iniciativa governamental (leia-se: fruto da luta dos nossos representantes da ANMP), façamos também uma reestruturação na maneira de interagirmos com aqueles que são nossos parceiros no desempenho do nosso trabalho. Seremos, então, mais respeitados e compreendidos por eles nesse toque de humanização e um dia (quem sabe?) teremos estatística zero de agressões a peritos, pois até para dizer não, a exemplo de nossos pais, o faremos com empatia e firmeza.

Dra. Julieta Guedes Monteiro.

Perita Médica Previdenciária

Gerência Executiva de Recife

15/08/2012

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