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CREMAL : Rota da caravana nacional da saúde em Alagoas flagra descaso dos gestores

CREMAL : Rota da caravana nacional da saúde em Alagoas flagra descaso dos gestores
CREMAL : Rota da caravana nacional da saúde em Alagoas flagra descaso dos gestores


Nos três municípios alagoanos contemplados pelo Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal) com a Caravana Nacional da Saúde - Porto de Pedras, Pão de Açúcar e Poço das Trincheiras -, a precarização da assistência evidencia que o setor nunca foi prioridade dos gestores. 

A principal queixa da população é a falta de acesso ao médico. O número de profissionais não é suficiente para atender a demanda, e na triagem, apenas os mais graves são atendidos. Também é recorrente nessas comunidades visitadas a denúncia de que os médicos das equipes do ESF não trabalham como preconiza a legislação do programa.

A rota da caravana teve início na cidade de Porto de Pedras, em três de maio. Sua população é de 8.419 habitantes, segundo dados oficiais coletados pelo governo do Estado em parceria com o IBGE no ano de 2011. Em seguida, a caravana esteve em Pão de Açúcar, no dia 16 de maio (23.809 habitantes), e depois em Poço das Trincheiras, em 17 de maio (13.873 habitantes). O IDH desses municípios é, respectivamente: 0,499; 0,614 e; 0,499.

Em Porto de Pedras a principal unidade de saúde é chamada USF José Aluísio da Cunha, no Centro, mas funciona sem diretor médico. Pelo menos não havia ninguém nomeado no mes que antecedeu o trabalho da caravana, nem há poucos dias. Também não possui as comissões exigidas pelo Ministério da Saúde, como Comissão de Ética Médica e de Controle de Infecção, entre outras.

Além das consultas o lugar faz algumas emergências clínicas, mas dispõe somente de quatro leitos para observação, todos sem portas. Outro agravante é que se situam próximo ao banheiro com higienização precária (sem toalhas descartáveis), e perto do depósito de cilindro de oxigênio. Os hospitais de referência para moradores de Porto de Pedras ficam em Passo de Camaragibe e em Maceió (respectivamente a e 33,8km e 106,4 km) – ambos registram superlotação. Detalhe: para transportar os pacientes há apenas uma ambulância.

A médica fiscal Ana Marluce Pitta Duarte, que assina o relatório da fiscalização, lembra que Porto de Pedras deveria ter uma estrutura mais adequada ao seu porte de cidade turística (é bastante visitada pela beleza e preservação do seu litoral). O principal posto municipal costuma funcionar apenas com um médico plantonista. Mesmo assim, foi observado durante a fiscalização que às segundas-feiras o plantão é reduzido para 12 horas; as quartas, somente tarde e noite; as quintas, pela manhã; e sexta não há plantão algum. Outra exigência do Ministério da Saúde que é descumprida refere-se à contratação de pelo menos três especialistas para atender a comunidade: clínico geral, pediatra e obstetra. Na prática só tem clínico. Em relação à estrutura de trabalho, o posto não dispõe de um desfibrilador sequer, o consultório de emergência é sem negastoscópio, cheio de infiltração nas paredes e o serviço de esterilização é inadequado. Na farmácia falta medicação básica e farmacêutico. A cozinha do posto também é insalubre. Nos demais postos fiscalizados na cidade: José Ferreira Macedo, Posto da Fazenda Canavieira do Meio e Valdomiro da Costa (todos USF) a situação é ainda mais precária.

Todos os relatórios de fiscalização foram entregues aos gestores de saúde e aos próprios médicos na solenidade de encerramento da caravana, no auditório da Biblioteca Municipal Aurélio Buarque de Holanda, com 49 participantes de diferentes faixas-etárias. Os conselheiros também colheram opinião dos moradores, pela manhã, em entrevista alheatória feita nas ruas do município para registrar a percepção do cidadão comum sobre algumas problemáticas sociais.

Na enquete, Porto de Pedras atribuiu uma das piores notas para a política da geração de emprego e renda, em média 0,3. “Aqui não há oportunidade para a gente trabalhar, ganhar dinheiro honestamente e sobreviver sem precisar se humilhar. Isso gera a busca pelas drogas e o aumento da violência”, desabafou a dona de casa Ilzete Pereira de Lima, mãe de três adolescentes e de dois maiores de idade. Na enquete realizada pelos conselheiros com a população, as piores notas foram para as políticas públicas de saúde, emprego, esporte/cultura/lazer, segurança (combate à violência e controle das drogas). Também foi muito citado o anseio pelo combate a corrupção. Todas essas questões foram abordadas com mais ênfase pela comunidade após a exibição do Filme A Casa dos Estranhos, seguindo a programação da Caravana Nacional da Saúde. 

Em Pão de Açúcar, segunda cidade alagoana da rota da Caravana Nacional de Saúde, os pontos mais criticados pela população, com média de nota zero foram: saúde, combate a violência, às drogas e a corrupção. O item geração de emprego teve nota 1, na média geral.

Apesar de ser um município relativamente populoso (23.809 habitantes), Pão de Açúcar tem somente um hospital de referência e que recebe pacientes de outras cidades, como Palestina, São José da Tapera, Porto da Folha (Sergipe), Monteirópolis e Olho D´Água das Flores. Nos postos de saúde de Pão de Açúcar o maior número de atendimento é feito na Unidade Mista Dr.Djalma Gonçalves dos Anjos, que não tem diretor técnico. O lugar dispõe de três ambulâncias e plantão de clínica médica por apenas 12 horas (das 10 as 22 e das 22 às 10h). O pediatra só realiza visita aos pacientes internos e não existe obstetra.

Os moradores da zona rural criticaram bastante a falta de médicos do ESF. “A gente sabe que na folha de pagamento da Secretaria Municipal de Saúde tem médico recebendo em dia, mas eles vivem em greve. Não tem um sequer que faça atendimento na zona rural. Somente os agentes de saúde fazem o trabalho, junto com a assistente social. O médico nunca comparece e os gestores não fazem nada. A situação já se arrasta por mais de seis meses e a secretária diz que a greve é legal, e que nada pode fazer para obrigar médico a trabalhar, tampouco negociar o reajuste reivindicado pela categoria”, desabafou o padeiro José Clemildo dos Santos, pai de três crianças e
Em Poço das Trincheiras, o que mais parece preocupar é a falta de políticas para o combate às drogas`e à violência portador de glaucoma. “A assistência médica daqui é um caos. Eu mesmo sofro muito para pegar o meu colírio e já tem 90 dias que não chega ao município”, completou, aproveitando a oportunidade do debate sobre o filme A Casa dos Estranhos, exibido para 80 pessoas no auditório da Faculdade São Vicente (FASVIPA). Já em Poço das Trincheiras o que mais parece preocupar os moradores é a falta de política pública para combater as drogas, a violência e a corrupção. A média de nota atribuída pela população para esses itens foi zero, e houve muita lamentação dos pais de família. “Aqui a droga tá dominando a juventude. O consumo acontece até nas escolas. A gente que é chefe de família não sabe mais o que fazer. Não existe opção de entretenimento, esporte nem cultura. Ta muito difícil criar os filhos. Eles não querem saber nem da igreja e aqui em Poço não funciona outra coisa”, resumiu Elinaldo Pereira dos Santos logo após assistir o filme A Casa dos Estranhos, com um público de 130 pessoas, no Clube Municipal. 



O presidente do Cremal, Fernando Pedrosa, explicou para os gestores da saúde, autoridades municipais e populares que participaram das atividades da Caravana Nacional da Saúde, que a instituição também se preocupa com o desenvolvimento social do Estado e o bem-estar geral dos cidadãos, ao invés de se limitar às ações relativas ao exercício da medicina. “É sobretudo o nosso espírito de cidadania que nos trouxe aqui, nessa caravana. Ouvimos a opinião das pessoas simples, dos moradores, dos usuários do serviço público a fim de colhermos a percepção que eles têm sobre problemáticas que afetam a qualidade de vida. Também exibimos um filme como pano de fundo para motivar o debate sobre questões sociais que interferem negativamente na qualidade de vida do ser humano e na necessidade de despertar para promover suas próprias melhoras. Enfim, esse é um projeto de solidariedade e amor ao próximo”, resumiu.




Fonte: Cremal

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