O Poder e a cultura de Violência em Alagoas -->

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O Poder e a cultura de Violência em Alagoas

“Em Alagoas não há balas perdidas porque aqui as balas têm endereço certo” transformou-se numa assertiva emblemática para caracterizar a especificidade da violência em Alagoas"
O Poder e a cultura de Violência em Alagoas
 Violência em Alagoas


. A violência politica em Alagoas 






Alguns autores” buscam as origens da violência política no Estado resgatando as relações de poder estabelecidas no período colonial, e na Primeira República, onde o coronelismo assumiu proporções gigantescas, em sua clássica conformação em Alagoas (Verçosa 1996, pág 113). O fenômeno social da violência política no Estado de Alagoas deve ser focalizado, segundo Tenório (1995), num quadro maior que contemple a formação histórica do país e, particularmente, do nordeste. A violência política representa uma articulação do trinômio violência-poder-cultura” que compõe o dos chefes políticos locais, sendo o que justifica os episódios de violência e homicídios praticados" pelas oligarquias alagoanas: “Esses chefes políticos segundo depoimento de Medeiros Neto [Politico de Palmeira dos Indios que já foi deputado Estadual de Alagoas, e exerceu outros cargos no poder do Estado de Alagoas, RVLF], tinham quase um direito a vida e a morte dos munícipes. Quem rezava fora de suas cartilhas,era perseguido, preso e demoralizado e poderia até ser morto” (Tenório 1995, pág. 102). [grifos nossos] Almeida (1995) analisa que o “complexo de mando” estruturado em Alagoas desde o período colonial, mantêm-se intacto até hoje, admitindo que os grupos políticos formados no século XIX continuam sendo uma referência importante para delimitarmos a composição politica das oligarquias locais na atualidade. Para este autor, a sociedade alagoana tornou-se violenta e excludente como resultado deste "complexo de mando” que nos remete aos empreendimentos coloniais nas montagens das usinas de açúcar em Alagoas, a base da economia local.


Mesmo admitindo que ocorreram mudanças do “banguê à moenda e da moenda à indústria Sucro-Alcooleira", Almeida entende que as marcas da moenda permanecem, principalmente a visão patriarcal e a mentalidade politica de mando e controle". Almeida ainda avalia que a cultura de Alagoas está marcada pela negação do progresso e da inovação, o que representa uma opção conservadora, seja no campo da política ou das relações econômicas no Estado. O que entrava as mudanças na cultura politica local são as estruturas de controle e mando que estão referenciadas na violência. Assim, como não há rupturas, mesmo o que parece novo traz os vestígios das velhas relações" montada na “Síndrome do medo” e dos “temores pânico "”. Estas são estruturas de controle constituídas desde a sociedade senhorial, que funda o medo como instrumento de controle e dominação (Almeida 1995b). As manchetes de violência que passaremos a analisar e as análises destes autores sobre a violência politica em Alagoas nos permitem afirmar que há uma certa linha de continuidade entre as bases de poder montadas no período colonial e a lógica de poder de mando que ainda referencia as práticas dos “novos coronéis" que compõem o cenário político de Alagoas. ]á afirmamos anteriormente que a produção discursiva sobre a temática da violência constitui o alvo de nosso interesse e discussão a partir da análise do funcionamento discursiva expresso nas manchetes de capa dos 03 principais jornais de Alagoas, com o objetivo de apreender os significados atribuídos aos episódios de violência circunscritos no Estado Da mesma forma que os jornais destacam a violência politica ou institucional como um traço característico da realidade alagoana, vários entrevistados, desde jornalistas, passando por policiais, delegados, representantes da sociedade civil e o cidadão comum, realçam este tipo de violência como uma peculiaridade da dinâmica da violência no Estado de Alagoas, confirmando-se urna sintonia entre o que afirmam os estudiosos de Alagoas”, o discurso jornalístico e o discurso da maioria dos entrevistados. Antes de iniciarmos a análise das manchetes sobre violência, tomamos algumas falas de nossos entrevistados que revelam como significam a violência no Estado de Alagoas. Na avaliação de um representante do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos a violência em Alagoas destaca-se pelos seguinte fatores:



“(...) O que caracteriza a violência de Alagoas são dois fatores: primeiro é a violência que atinge basicamente pessoas excluídas e carentes de direitos basicos. (...) Muitas e muitas vezes as pessoas, ao reclamarern o direito mabalbista, são seqüestradas, são levadas para um outro lugar onde são forçadas a confessar que não têm o direito, são levadas a cartórios e lá são obrigadas a assinar escrituras públicas dcsonerando o empregador. Isso existe. E outros são assassinados mesmo. Outro fator é a chamada violência política. Essa é bem caracterizadora. Aquela violência que decorre da prática bestial de se lavar a tal da honra com o sangue da outra pessoa. Ou seja, a quebra da ética. entre aspas, nas relações politico-eleitorais, são reparadas com sangue. Isso é histórico no Estado e ê absolutamente atual. (...) Costumo dizer que nós acabamos assim, nesse aspecto politico, particular: ainda se utiliza da violência para chegar e se manter no poder. E ai a convivência da violência com o poder é muito próxima.. (...) É a violência servindo para viabilizar o acesso ao poder público, ao poder estatal, c para garantir a manutenção no poder estatal. Controle dos feudos. (...) Isso é fato, é uma peculiaridade”. 



Consoante as avaliações dos estudiosos de Alagoas, acima referidos, um operador da Segurança Pública de Alagoas admite que a violência no Estado tem uma origem politica, reforçada por valores culturais de vingança e defesa da honra:


“A violência aqui tem origens politicas. A violência urbana agora ê que esta tendo evidência. O que a gente tem aqui ê uma política de vingança, que ê uma coisa cultural. É o cara que disputava com Manoel, Manoel perdia e matou, porque ele não admitia. É o pai que tinha a filha deflorada e matava o camarada porque era dcsonra paraafamilia.A titulo de vingança. (...) Aqui não tem bala perdida, aqui o cara acerta mesmo”. O aforismo que diz “Em Alagoas não há balas perdidas porque aqui as balas têm endereço certo” transformou-se numa assertiva emblemática para caracterizar a especificidade da violência em Alagoas, e termina por revelar uma certa cultura de violência que se expressa em crimes por encomenda, ou crimes de pistolagem que são divulgados em alto e bom som pelos meios de comunicação de massa, como passaremos a ilustrar mais adiante.


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