A alta atividade gripal, uma das causas responsáveis pelo excesso de mortalidade nas últimas cinco semanas, surgiu a Norte de Portugal deslocando-se para Sul e registando particular impacto em Lisboa e também na região do Vale do Tejo. Desde o início de Fevereiro, recorde-se, registaram-se 1947 mortes acima do esperado em Portugal. No total, morreram 14 583 pessoas, quando o número de óbitos habitual nesta altura do ano é de 12 636 óbitos.
De acordo com o último relatório sobre a gripe, do Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças (ECDE), com sede em Estocolmo, Suécia, a actividade gripal agravou, também, a mortalidade em seis outros países da Europa: Bélgica, Holanda, Suécia, Suíça, França e Finlândia.
O documento refere ainda que no mês de Fevereiro a gripe obrigou, em Portugal, o internamento de 15 pessoas nos cuidados intensivos.
Os números divulgados pelo ECDE levam José Pereira Miguel, presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a concluir que "os indicadores europeus confirmam que a gripe e o frio são os principais responsáveis pelo aumento da mortalidade". "A crise pode também ser uma explicação. Contudo, a existência de uma realidade comum a vários países europeus leva-nos a acreditar que não é um aspecto determinante no acréscimo de óbitos nas últimas cinco semanas", disse, em declarações ao CM. Os indicadores agora divulgados pelo organismo europeu indicam que o vírus dominante em Portugal, e no resto da Europa, é o H3N2 e atinge, sobretudo, a população idosa. Nos dois últimos Invernos a estirpe dominante foi o vírus A (H1N1) tendo atingido, em particular, grávidas e crianças.
l O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, tem atendido diariamente cerca de 450 doentes nas Urgências, devido ao surto gripal. A funcionar de forma plena desde o dia 27 de Fevereiro, esta unidade hospitalar, gerida em regime de Parceria Público-Privada, foi obrigada a antecipar a abertura das áreas de internamento, devido à afluência de doentes com sintomas gripais. Desde a abertura da primeira ala, foram efectuados cerca de 700 internamentos.
'VACINA PODE NÃO SER 100% EFICAZ'
José Pereira Miguel, presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, afasta necessidade de alargar horários de centros de saúde
Correio da Manhã – O Ministério da Saúde pediu para serem apuradas as causas do elevado número de óbitos. Já tem resultados?
Pereira Miguel – É um trabalho que vai demorar pelo menos seis meses. É necessário apurar as causas de morte , caso a caso, pois os números que possuímos são referentes a todas as causas de morte. Contudo, os primeiros indicadores, não apenas em Portugal como em outros países da Europa, associam a subida do número de mortes à gripe e ao frio.
– Acredita que os indicadores que serão divulgados amanhã revelam um decréscimo de mortes?
– Os dados recebidos diariamente vão nesse sentido.
– A alta actividade gripal não obriga a medidas de excepção, como alargar o horário dos centros de saúde nas zonas mais atingidas.
– Não. São desnecessárias medidas de excepção.
– Atingimos níveis de gripe dos mais elevados da Europa, o que é que falhou?
– A taxa de vacinação é muito baixa. Em particular nos dois grupos mais sensíveis, que são os idosos e os doentes crónicos. É preciso haver uma maior consciência para a necessidade de tomar a vacina, mesmo ao nível dos lares. Outras causas são falhas ao nível da higiene, que levam à propagação da gripe, como não lavar as mãos ou espirrar sem colocar um lenço na boca. Cumprimentar com abraços e beijos também é desaconselhado.
– Qual o contributo da crise?
– As condições sociais têm sempre uma influência, mas não houve uma agudização dessas condições em Fevereiro.
– Verificada uma mutação do vírus, a vacina é menos eficaz?
– Pode ter menos eficácia. Podemos ter estado a utilizar uma vacina que não seja 100% eficaz.
*com J.N.