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A UFAL E A MEDICINA ALAGOANA



A decisão da Ufal de preecher todas as vagas de seus cursos através do ENEM resultou este ano na queda drástica do acesso de estudantes alagoanos ao curso mais concorrido de todas as universidades públicas brasileiras – Medicina. Apenas 8% das 80 vagas do curso médico foram preenchidas por filhos de Alagoas. As demais ficaram para candidatos de vários estados brasileiros, sendo cerca de 20% para mineiros. 

O Sinmed é contra o preenchimento integral das vagas de Medicina através do ENEM, pois isso dificulta o acesso dos alagoanos – que passam a concorrer com candidatos de todo o País, muitos beneficiados com um ensino médio de melhor qualidade. 

Mas não só por isso. Também preocupa o fato de a Ufal formar profissionais que não vão atuar em Alagoas, pois retornarão aos seus estados de origem depois de formados. É importante fazer essa reflexão, pois Alagoas praticamente não teve espaço para colocar seus estudantes no curso mais concorrido da sua própria universidade. 

Os cursos médicos de Alagoas já formaram excelentes profissionais, de renome nacional, e tem entre os candidatos às vagas oferecidas, tanto na Ufal como na Uncisal, pessoas bem preparadas, que deveriam ser priorizadas no acesso ás vagas. 

A Ufal pode até destinar vagas para preenchimento atráves do ENEM, mas é importante reservar a maioria delas para os alagoanos, que podem até sair para fazer residência fora depois da graduação, mas que vão voltar para viver e trabalhar em Alagoas. Já os candidatos de fora vão pegar o diploma e retornar para seus estados de origem. Então, qual vai ser a importância da Ufal para Alagoas? Quantos médicos terá formado para trabalhar aqui? 

Entre final da década de 1990 e meados dos anos 2000, a instituição (baiana) que realizava o vestibular de Medicina da Uncisal aprovava, na grande maioria, estudantes vindos de outros estados - principalmente da Bahia e de Sergipe. Pouquíssimos profissionais formados nesse período permaneceram em Alagoas depois de formados. Foi necessária uma luta árdua para que a instituição responsável pelo certame fosse mudada e o vestibular da Uncisal voltasse a aprovar estudantes alagoanos. 

Atualmente, a grande mazela do vestibular da Uncisal é o sistema (discriminatório) de cotas que destina 50% das vagas de seus cursos aos estudantes oriundos de escolas públicas. Isso tem feito com que candidatos sem preparo intelectual para acompanhar um curso como Medicina tenham acesso à metade das vagas ofertadas, em detrimento de candidatos mais preparados, que tiram melhores notas no vestibular, mas enfrentam uma concorrência muito mais acirrada e terminam ficando de fora. É injusto. 

Antes desse sistema de cotas as universidades públicas sempre tiveram espaço para alunos bem preparados – pobres ou não - egressos de escolas públicas. As cotas serviram para permitir o acesso de muitos alunos que não têm condições de acompanhar um curso superior, porque tiveram uma formação decifiente na escola pública, que precisa melhorar muito. 

Esse tipo de situação – Ufal abrindo suas vagas para formar médicos para trabalhar em outros estados e Uncisal abrindo vagas para candidatos sem condições de fazer uma graduação bem feita – certamente vai favorecer a mercantilização do ensino médico em Alagoas. Até agora, aqui ainda não existem faculdades particulares de medicina – daquelas que cobram R$ 5 mil de mensalidade. Mas a situação caminha para favorecer o surgimento delas, onde, certamente, só poderão estudar filhos de famílias ricas.

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3 Comentários
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  1. Isso é novidade pra quem? Apenas foi uma profecia que se cumpriu.

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  2. Seu texto estava ótimo, até o momento em que utiliza de um argumento discriminatório para tratar das cotas.
    Você tem todo o direito de achar que 50% de cotas é um número exagerado, que por inúmeras razões a cota não vai em nada fazer com que nossa sociedade evolua ou diminua as desigualdades sociais. Mas dizer que pessoas com baixo nível intelectual estão entrando na universidade, é um argumento preconceituoso e sem a mínima comprovação empírica.
    Não conseguir uma nota para entrar num vestibular de Medicina não quer dizer que o aluno tenha nível intelectual baixo, mas que não teve condições de frequentar um cursinho preparatório ou algo qualquer formação que o deixasse apto a concorrer com a classe média e alta alagoana. Quantas pessoas todos nós conhecemos que tem toda a aptidão para se tornarem médicos, que estudam pra caramba, que são pessoas inteligentíssimas, mas não conseguem passar no vestibular? E isso quer dizer que seu nível intelectual é baixo?
    Reflita sobre isso.

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  3. TIAGO HERCULANO02/02/2012, 20:04

    CONCORDO PARCIALMENTE, UMA VEZ QUE EM RELAÇÃO AO DESPREPARO INTELECTUAL DE ALUNOS DE COTAS, É NECESSÁRIA UMA PESQUISA MAIS SÉRIA, HAJA VISTA A REALIDADE DE TAIS ALUNOS, OS QUAIS ACOMPANHAM SIM O CURSO E MUITOS ESTÃO ALÉM DOS ALUNOS DITOS "FERAS". TAL PESSOA RESPONSÁVEM POR ESTA RESENHA NÃO TEM CONHECIMENTO REAL DA SITUAÇÃO DOS ALUNOS COTISTAS.

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