04/12/2011 PF apura se Caixa viu aplicação irregular
Ex-presidente do PanAmericano reconheceu em e-mail que banco estatal perceberia aplicação com taxa exorbitante
Caso PanAmericano derrubou diretoria da Caixa por má gestão; ministro Mantega queria impor conselho
DE SÃO PAULO
Além de pagamento irregular de bônus, há suspeita de que a Caixa também tivesse tomado conhecimento de que o PanAmericano pagava juros "irreais" para alguns investidores.
Um deles, Adalberto Salgado Filho, aplicou em CDBs com juro de 697%, considerado irreal, durante 315 dias - a taxa de mercado era 12%.
Em março de 2009, o ex-presidente do banco Rafael Palladino pediu, por e-mail, que Wilson de Aro, então diretor financeiro, "resolvesse o problema" do CDB para evitar que a Caixa percebesse.
"Wilson, essa operação do Adalberto vai chamar a atenção (...) da CEF, não acha? Penso que é capaz que, pelo valor, colocar [sic] em risco o negócio. Veja que a primeira coisa que vão olhar são os empréstimos grandes e este vai ser um dos maiores."
A regularização do contrato ocorreu em junho de 2010, quando a Caixa tinha quase concluído o pagamento pelos 36% do PanAmericano.
A condução do negócio derrubou Maria Fernanda Coelho, então presidente da Caixa, e outros executivos, em março deste ano. Márcio Percival, que conduziu as negociações, foi mantido.
A Folha apurou que o ministro Guido Mantega (Fazenda) pressionou pela demissão da diretoria por "má gestão". O ministro nega.
A interferência de Mantega também foi detectada pela PF, que obteve e-mails em que Palladino diz ter de colocar Demian Fiocca, ex-presidente da Nossa Caixa, como membro do conselho do
PanAmericano.
No e-mail enviado a Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, Palladino afirmou que Fiocca era indicação de Mantega.
Disse ainda que Percival tinha de ser consultado para as indicações "para não gerar desconforto com o Guido [Mantega] pois, segundo o que me disse o Márcio [Percival], o ministro que quer indicar".