"Quero Morrer Trabalhando"
(Benedito Felisdório Gomes)
O homem mais simples e humilde que conheci pessoalmente, foi
ele, meu "Tio Benedito."
De origem humilde, foi para o Rio de Janeiro, sozinho. Lá,
passou por muitas privações.
Eu o amava como um segundo pai. Nele, havia algo fora do normal,
como cheiro de Deus. Seu sorriso parecia com o canto dos pássaros.
Dele, lembrarei das grandes lições que ele me ensinou.
Depois de muito tempo, ao receber a parte que lhe cabia da
herança, comprou uma linha telefônica, há trinta anos atrás. De
vendedor de uma loja de materiais elétricos, pouco estudo e uma
inteligência brilhante, tornou-se um dos maiores empresários do ramo.
Muito rico e muito humilde. Nunca o vi almoçando com fazendeiros,
empresários ou políticos. Ele gostava mesmo era da companhia do meu
pai e de todas as pessoas pobres da região.
Ele deu silenciosamente incontaveis feiras a quem passava fome,
tratamentos médicos,
geladeiras, televisões...nunca negou nada a ninguém. Sua única
condição era o anonimato.
Um dia, ele me telefonou pedindo que eu visitasse um doente. Eu
fui... Ao chegar lá, era um cidadão paralítico sofrendo com escaras no
corpo, largado em um colchão, sem remédios e sem quase nada. Ele me
pediu que eu fizesse tudo por aquele homem. E assim foi feito. A
condição para essas pessoas era a mesma; -não conte nada a ninguém.
Outra vez, ele pediu que eu procurasse nas ruas, pessoas que
estivessem com fome, desconhecidas. Eu procurei.
Essas pessoas fizeram compras, comida, muita comida e para que essas
pessoas sorrisem um pouco, foi dado outras coisas, entre elas,
a dignidade.
Seu carro era um dos mais caros, porém ele dizia que era só pra
tirar uma "onda" com os ricos. Sua casa era rica pelos caprichos da
esposa, mas ele dizia: - o meu quarto me basta.
Com ele eu aprendi o verdadeiro amor. A simplicidade na bondade e
tive o privilégio de tê-lo como tio e amigo aqui na terra.
O coração dele era frágil. Pessoas gananciosas o cercaram e ele
tomou atitudes contra o seu coração.
Hoje, às três horas da madrugada, ele se foi vítima do coração.
E, até agora, não acredito que ele se foi sem falar comigo...
Dedico ao meu tio Benedito Felisdório Gomes, todas as flores que
eu plantei em suas terras e todos os cantos dos passarinhos que ouvi e
o mugir de todos os bois, o latido dos cães, a corrida das avestruzes
e o verde das serras, onde o seu olhar molhado de lágrimas, não
cansava de olhar.
E ao dedicar-lhe as coisas simples da vida, lhe misturo a elas,
entrego-lhe a Deus que com certeza o recebeu de braços abertos.
Com todo o meu amor obrigada!
Lembre-se. -esteja onde estiver-
de quando eu acenava e dizia:
-Até breve tio. Deus te ilumine e te guarde por toda a eternidade.
Sandra Isabel Gomes.