Breadcrumb

Imagem do AR NEWS 24h

AR News Notícias. Preenchendo a necessidade de informações confiáveis.

Maceió AL - -

GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO (1950-1972)

GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO (1950-1972)Data e local de nascimento:
12/1/1950, Coruripe (AL) Data e local da morte: 22/1/1972, em São Paulo (SP)




Filiação: Zoraide de Carvalho Beltrão e João Beltrão de Castro



Alagoana de Coruripe, Gastone manifestou desde jovem preocupação com as desigualdades sociais. Ainda adolescente, visitava presos comuns, levando-lhes roupas e alimentos. Estudou nos colégios Imaculada Conceição e Moreira e Silva, em Maceió, e concluiu o segundo grau no Rio de Janeiro, onde moravam seus avós.

Em 1968, de volta a Maceió, Gastone prestou vestibular para Economia na Universidade Federal de Alagoas, entrando em terceiro lugar. 

A partir de então, sua militância política se tornou mais efetiva, inicialmente na JUC (Juventude Estudantil Católica). Em 1969, já integrada à ALN, viajou para Cuba, onde recebeu treinamento militar. Foi  localizada e executada em São Paulo pela equipe do delegado Sérgio  Paranhos Fleury, quando tinha retornado ao Brasil havia menos de um  mês. No entanto, a versão ofi cial, que prevaleceu durante muitos anos,indicava a morte de Gastone em tiroteio com a polícia.Apenas dois meses depois, a mãe de Gastone, dona Zoraide, e seu pai, o médico sanitarista João de Castro Beltrão, receberam de uma freira a informação de que algo acontecera à fi lha deles. Dona Zoraide foi imediatamente ao Dops paulista e, após muito insistir, conseguiu falar com o delegado Fleury, que inicialmente dizia não se lembrar do caso, mas acabou por lhe dizer que a fi lha era uma moça muito corajosa  e forte e resistira até a última hora. Gastone tinha sido enterrada como 
indigente. Foi preciso esperar três anos para que o traslado para Maceió  fosse realizado. Hoje, seus restos mortais estão sepultados na tumba da  família Beltrão, no cemitério Nossa Senhora da Piedade.

Após a abertura do acesso aos arquivos do Instituto Médico Legal  (IML) e da polícia técnica de São Paulo, a Comissão Especial sobre  Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) começou a reconstruir  a verdadeira história da morte de Gastone a partir das contradições e  omissões dos próprios documentos ofi ciais. A requisição de exame ao  IML e a necropsia registram que ela morreu em tiroteio na esquina  das ruas Heitor Peixoto e Inglês de Souza, em São Paulo. Assinam  o laudo necroscópico os legistas Isaac Abramovitc e Walter Sayeg. 

Gastone deu entrada no IML às 15h30 do dia 22 de janeiro de 1972.  Suas vestes e objetos – anota a requisição de exame – foram entregues  ao “sr. dr. Fleury”.


Por solicitação da CEMDP, o processo de Gastone foi submetido a exame pelo perito criminal Celso Nenevê. Pela análise das fotogra- fi as, que o deixaram perplexo pelo absurdo número de ferimentos que mostram, ele constatou que a militante tinha 34 lesões, enquanto o laudo ofi cial descrevia 13 ferimentos a bala com os respectivos orifí- cios de saída. O perito se concentrou em duas lesões, uma na região mamária e outra na região frontal. Ampliou a foto da ferida na região mamária 20 vezes. Abramovitc descrevera a lesão como resultante de “tangenciamento de projétil de arma de fogo”. Nenevê concluiu que,  ao invés de tiro, tratava-se de uma lesão em fenda, produzida por faca  ou objeto similar.


O perito agregou que, dado o formato em meia-lua, o ferimento  fora produzido com o braço levantado. A lesão estrelada na região  frontal indica que o tiro foi disparado com a arma encostada, de cima  para baixo. 

Além das contradições anteriores, essas duas lesões são  totalmente incompatíveis com a versão de tiroteio. A lesão produzida  por faca ou objeto similar requer proximidade entre agressor e vítima.  O tiro com arma encostada na testa indica execução. Nenevê concluiu seu parecer afi rmando que tanto o relatório de  local como o laudo médico-legal não estabelecem pormenores que  possibilitem compatibilizar as lesões descritas para o cadáver – o legista constatou “fratura de cúbito e rádio esquerdos, ossos do punho esquerdo e do terço superior do úmero direito” – com as circunstâncias  em que fora travado o aludido tiroteio. Salientou ainda que Gastone,  a partir do momento em que teve os membros superiores inabilitados, não podia oferecer resistência armada.

As circunstâncias da morte não puderam ser restabelecidas com clareza até hoje, mas a CEMDP reconheceu, por decisão unânime, que Gastone Lúcia Carvalho Beltrão, cujo cadáver mostrava 34 lesões, 
na maioria tiros, mas também facada, marca de disparo à queima-roupa, fraturas, ferimentos e equimoses, não morrera no violento tiroteio alegado pelo Dops e pelos documentos oficiais, e sim depois de presa pelos agentes dos órgãos de segurança.

Fonte:MJ

Poderá gostar :
MULHERES TORTURADAS, DESAPARECIDAS E MORTAS NA RESISTÊNCIA À DITADURA

Leia o artigo: 

:Marcas da tortura na alma

Thomáz Beltrão- secretário Municipal de Educação
Texto: Ana Claudia Laurindo- Cientista Social

Postar um comentário

0Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo administrador.