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O médico da pobreza : A história de Aziz


Aziz com o barqueiro "seu Moraes", que pediu uma segunda opinião


Indivíduo Não-Governamental 

Sob o título “O médico da pobreza”, a história de Aziz nesse vilarejo virou matéria do jornalista Roberto Kotscho, na edição de março de 2009 da revista Brasileiros. “Onde quer que esteja, almoçando no restaurante, no bar com amigos, caminhando pela calçada ou em sua modesta casa de um dormitório numa rua de terra alugada por R$ 400 mensais, ele não escapa de dar uma consulta. Ninguém pode ver o médico sem se queixar de algum achaque ou de problemas de saúde com alguém da família. É raro alguém lhe responder ‘tudo bem, doutor’”, escreve Kotscho, destacando que o médico “paga para trabalhar”. Para o jornalista, Aziz é um ING (Indivíduo Não-Governamental) em vez de uma ONG.

Em junho de 2009, a reportagem da Ser Médico acompanhou o médico em caminhada pelas ruas de Barra do Ribeira e pôde constatar in loco a descrição de Kostcho. Constantemente abordado para uma consulta, ele a concede ali mesmo, na rua. De calção à beira do rio, o pescador Paulo Alves Carneiro aproximou-se do médico para mostrar as lesões que tinha nos braços e pernas. Após observar com cuidado, Aziz pediu para ele providenciar um papel e caneta para fazer a prescrição.

O médico Eduardo Takiro, que na ocasião trabalhava no Posto de Saúde do município, fez questão de falar do carinho da população pelo colega. “Só ouço elogio da comunidade sobre você”, afirmou Takiro, em encontro com Aziz. Ao avistar o médico, Maria José Leandro de Souza, de 44 anos, apressou-se em sua direção para queixar-se que ele “andava sumido”. “O dr. Aziz é muito bom para nós. Quando ele atendia no posto, pediu exames e acertou na minha medicação. Eu tinha tontura e ânsia por causa da pressão alta, hoje não sinto mais nada”, elogiou ela.


Acometida pela poliomielite na infância, Fabiana Lima Ribeiro  precisa de muletas para se locomover. Sua maior preocupação é engordar e não poder mais usar muletas. “Não quero ficar presa à cadeira de rodas. Com as muletas posso andar, pegar ônibus e ter autonomia”, comenta. Ela era beneficiada por um projeto social de coautoria de Aziz Ribeiro (em conjunto com a professora de educação física e fisioterapeuta Maria Luiza Scheffer Zwarg), criado na época em que o médico atendia na unidade de saúde do município. Pelo projeto, uma pousada cedia sua piscina durante a semana para sessões de hidroterapia. A prefeitura entrava com pagamento do honorário da fisioterapeuta e o cloro da piscina. Quando encontrou o médico, Fabiana o informou que o benefício havia sido extinto e que, para fazer fisioterapia, ela se deslocava até São Paulo, uma vez por semana.

Odete de Lima, de 74 anos, abraçou e beijou o médico quando o encontrou na praia. Logo o convidou a entrar em sua casa para escolher umas mudas de planta em agradecimento pelos cuidados. “Seu Moraes”, como é conhecido o piloto aposentado da balsa que atualmente leva turistas em passeios com seu pequeno barco, é um daqueles sábios que sabem quando vai chover e quando vai dar peixe. Com dores no estômago, foi atendido e medicado no posto. Disse que havia melhorado muito pouco e quis ouvir a opinião de Aziz. Mostrou as caixas de medicamento que estava tomando ao médico, que orientou a aumentar a dose. “Precisamos ver melhor essa barriga. Vá quinta-feira para o posto de saúde de Cananeia, no meu plantão para pedirmos um exame”, pediu Aziz. “Só no final do mês, quando receber a aposentadoria e tiver dinheiro para pegar ônibus”, respondeu “seu Moraes”. “Se o pobre fica doente, não adianta ir ao médico e fazer exame. Depois ele não vai ter dinheiro para comprar o remédio”, pondera o barqueiro.
CREMESP

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