Qualquer semelhança é mera coincidência !
" Carta ao Editor do Zwela Angola, publicado em "Vozes Silenciadas"
Por João Lernardo De Sousa
Caro Editor:
Hoje estava para escrever uma coisa diferente a essa, ía falar de Luanda, da nossa urbe e cidade capital, mas como o invitável é mesmo inevitável então tive que deter-me e reparar outro assunto que, de facto, já vai rodando na minha cabeca desde um tempo atrás. Mas tudo isso é fruto do meu gosto em observar atentamente e analisar o nosso país em todas suas dimensões. Confesso mesmo que sou um homem de leitura e pelo sucedido ao interagir no facebook com um cidadão que omito o nome por razões óbvias lembrei-me que já tinha lido entres as muitas obras sobre e de instrução jornalística, uma que é um clássico por vir de quem o escreve e por abordar o que aborda, e sobretudo na claridade que o faz. Estou-me a referir de OS CÍNICOS NÃO SERVEM PARA ESTE OFÍCIO, escrita por Ryszard Kapuscinski.
Eis a questão... O amigo meu do facebook "postou" no seu mural o seguinte:
"Efeitos das manifestações dos filhinhos de papai!
Por mais que trabalhem, Vocês morrerão miseráveis, pois a vossa única riqueza é a pobreza herdada do tempo colonial. Só estamos a espera da época em que vou pôr em acção as chicotadas a quem ousar reclamar, aí sim, estará cumprida a profecia dos poetas que morreram de anemia aguda"
Eu no meu jeito de ser, disse-lhe que só não concordava muito com a primeira frase, pois, o demais estava de acordo. o que ele respondeu dizendo: não posso dar tudo de bandeja, daí seguiu-se um comentário meu em tom de reflexão... Mas o que mais chamou-me atenção foi ver meus comentários eliminados no mural de dito amigo do facebook, então comecou minha reflexão, e meu direito de palavra e opinião para toda essa classe jornalista de angola, e também minha memória sobre os ensinamentos de OS CÍNICOS NÃO SERVEM PARA ESTE OFÍCIO.
Então, por um momento visualizei Angola apartir da informação que nos proporciona esse link abaixo que é de uma ONG que se chama REPORTER SEM FRONTEIRAS, onde Angola para o ano 2010 oucupa a posição número 104 de 178 países, com uma pontuação de 28.50, ressaltando ainda que Eritreia é o país colocado no último lugar com uma pontuação de 105.00, e a Finlandia no lugar número 1 com a pontuação de 0.00, destacando ainda que este é o último relatório emitido pela organização citada anteriormente. Aqui estão os dados duros onde podemos ver o desempenho de Angola (Clique Aqui: Reporters Without Borders).
No entanto, pela natureza do assunto a questão não fica somente por aí, até porque este índice centra-se mais na liberdade de expressão, eu pessoalmente, e presumo que uma boa parte dos angolanos gostaríamos de ver também o lado qualitativo destes dados duros e quantitativos. Justificando assim para mim próprio e para todos os demais angolanos o porque é que a classe jornalista do país, especificamente as dos meios de comunicação pública, JORNAL DE ANGOLA, TELEVISÃO PÚBLICA DE ANGOLA, RADIO NACIONAL DE ANGOLA e ANGOP tem nas minhas/nossas intuições e supeitas confirmadas os atributos de INSERVÍVEIS. E aqui ressalvo os grandes nomes da comunicação angolana que honor merecem, mas para todos os outros jornalistas ligados aos orgãos de informação mencionados desde editorialistas, reporteres, chefes de edição, articulistas, etc., são INSERVÍVEIS porque são os CÍNICOS de Ryszard Kapuscinski.
Tenho que lembrar-lhes que o repórter polaco, Ryszard Kapuscinski, que viveu e conheceu perfeitamente África e de maneira singular Angola motivo que lhe faz escrever o livro UM DIA MAIS COM VIDA retratando o quotidano do conflito angolano, faleceu no início de Janeiro de 2007, na obra OS CÍNICOS NÃO SERVEM PARA ESTE OFICIO aborda os problemas surgidos na sua actividade, nesta época de grandes mudanças políticas e sociais e de rápidas alterações tecnológicas na área da informação. Como falar de pobreza, de fome e das guerras? Qual a relação entre a realidade e a narrativa que dela se faz? Pode ser-se um bom jornalista sem motivações éticas? Que alterações foram provocadas no jornalismo pela televisão e a Internet? Além de uma conversa com Maria Nadotti, o livro inclui uma entrevista feita por Andrea Semplici sobre os acontecimentos que levaram à emancipação africana do domínio colonial e um diálogo com o crítico de arte John Berger. Então leiam e explorem esse livro, por favor!
Nesta ordem de ideias tenho algumas respostas para a situação que estamos a abordar, mas prefiro colocar perguntas porque elas nos ajudariam a refletir mais e mergulhar no espírito da auto-crítica que muito nos faz falta. Como e qual é a qualidade do jornalismo angolano? O que faz o orgão reitor da comunicação social? Como andamos em matéria de legislação sobre a comunicação social em Angola? Onde estão as rádios universitárias e comunitárias? A que velocidade de fibra ótica navegamos e nos comunicamos em Angola? Quais e como são os canais e qual é o feedback dos mídias com o público em Angola? Cabalmente quanto e como se INFORMA, SE FORMA e se RECREA? Como andamos em matéria de formação dos nossos jornalistas? O que se pode dizer por exemplo do jornalismo/periodismo de investigação em Angola? Quantos organismo (sindicatos, conselhos, associações, etc.) em matéria de comunicação temos e o que fazem? Enfim, é aqui onde reside a questão da QUALIDADE do nosso jornalismo. E por último, porque arremeter contra RÁDIO NACIONAL DE ANGOLA, TELEVISÃO PÚBLICA DE ANGOLA, JORNAL DE ANGOLA e ANGOP? Pela única e simples razão de que são órgãos públicos que tem uma partida pressupostária ou orcamental para fazerem o que se supoem que por natureza e vocação devem fazer e não o fazem. Porque, assim de simples são os nossos recursos os que mantem as operações destes orgãos de comunicação. Essa é a parte qualitativa do CINISMO que os dados duros ainda que cruéis não nos permitiam ver do jornalismo público angolano.
Aclaro que nada tenho em contra deste amigo do facebook mas suas palavras e acções descreve em muitos tracos o jornalista angolano: COBARDE, MEDROSO, BAJULADOR, APROVEITADO, PREGUICOSO, INSTITUCIONALIZADO e SEM SENTIDO NEM RESPONSABILIDADE ÉTICA PARA COM O SEU MESMO POVO, POIS, AO SUSTENTAR E EXERCER DESSE MODO O JORNALISMO FAZEM PARTE DO MESMO APARELHO QUE HOJE OPRIME ANGOLA E OS ANGOLANOS.
Em Angola actualmente, assim como precisamos de mulheres e homens de e com valor também precisamos de jornalistas e jornalismo capaz e a altura das necessidades do país, que encarnem a figura biblíca do profeta, como aquele ANUNCIA e DENUNCIA, que cumpram cabalmente com a função dos comunicadores que são, FORMANDO, INFORMANDO RECREANDO, que desafiem as estruturas do poder establecido porque disso é que Angola necessita e não dos CÍNICOS dos quais fala Ryszard Kapuscinski. Que desafiem não porque são insurgente e "Revús" senão porque é obrigação do governo garantir efectivamente o acesso a todos, a diversificação e o manejo da comunicação social, que por se andamos esquecidos lhes recordo também que faz parte do DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM. E por uma Angola livre e melhor ajudemos até os jornalistas a libertarem-se!!!
João Lernardo De Sousa "
Fonte:
zwelangola :Os cínicos não servem para este ofício: Visão sobre o jornalismo e a imprensa em Angola