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Conduta na presença da Acinetobacter baumannii em Alagoas e em outros Estados




 ACINETOBACTER BAUMANNII : O SILÊNCIO DAS VÍTIMAS !

 Muito tem se falado sobre a presença da Acinetobacter em território Alagoano porém efetivamente pouco se tem feito para esclarecimento a bem da verdade.A impressão que se passa é que existe uma preocupação em  explicar algo que em tela já é bem conhecido e que só é de interesse do meio acadêmico : Que a bactéria já é uma velha conhecida do meio médico,que existe tratamento e ela vive colonizando o ser humano!  Isso é verdade! O que não é verdade é quando se usam  palavras  recheadas de eufemismo na tentativa de minimizar o ocorrido  como se fosse algo comum , e se  as mortes que existiram no período  seriam elas exclusivamente devido a algumas causas específicas relacionadas a gravidade das comorbidades existentes e/ou pela idade dos pacientes  acometidos.Oferece assim uma falsa impressão da realidade , e uma tênue justificativa para os óbitos! 

Recordo muito bem   que os gestores  foram alertados nos inúmeros relatórios produzidos pelo SINMED e CREMAL sobre o caos existente no sistema de saúde pública de Alagoas, principalmente no último relatório que descreve um hospital de Emergência insalubre com pacientes no chão, amontoados como se fossem um grande depósito de lixo, só que agora , de humanos! Como evitar e/ou controlar uma infecção hospitalar sem o respeito as boas normas de higiene ? Hospital  limpo é peça fundamental na prevenção de morbidade e mortalidade !

Um pouco da História  da bactéria Acinetobacter

De forma sucinta , traço algumas considerações, já que o tema é abordado de forma detalhada em outras postagens do blog.

Somente a partir da década de 80 é que a Acinetobacter começou a causar infecções hospitalares mais severas principalmente em pacientes susceptíveis , provocando quadros graves infeciosos nos pulmões ,sistema urinário,infecções em queimaduras ,oculares,peritonites  e septicemias.

A Acinetobacter baumanii pode ser encontrada fazendo parte da flora bacteriana na pele, a nível vaginal,retal, gastrointestinal,nasal ,na  faringe (garganta) e nas mãos. A presença de bactérias nesses locais  "geralmente não trás  conseqüências" para o indivíduo e ele é assim chamado de "portador são" ,ou seja, possui uma colonização bacteriana.

As bactérias se espalham no ambiente através de indivíduos infectados ou "portadores saudáveis". A transmissão ocorre principalmente através das mãos,  a forma mais comum de disseminação .



O primeiro reservatório da Acinetobacter baumanii é o paciente infectado e o "portador". Secundariamente poderemos encontrar esta bactéria no ambiente próximo do paciente (cama,cadeira, lençol,colchão,travesseiros, ...). Também está presente em ambiente úmido, como ralos de pia, torneiras, roupa molhada. Outros locais:chão,paredes,cortinas,materiais de fórmica ,estetoscópio,esfigmomanômetro, prontuário,luvas,termômetros,fluxômetros etc

Alguns reservatórios da Acinetobacter são chamados de não esperado, e são  representados por : Formigas- (Em São Paulo foi encontrada em 25% delas), em piolhos,baratas, em vegetais e frutas (cenouras,batatas,feijão,milho,maça,melão,pepinos etc)

Ex: Acinetobacter spp:  Sobrevivência em superfícies ao redor do leito do paciente:

HGE de Alagoas:05 de dezembro de 2010



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Condutas tomadas em outros estados e em Alagoas na presença da acinetobacter Pan -resistente 

 Disponibilizo para os leitores do blog  no final da postagem a título de conhecimento ,alguns links que mostram a presteza e a seriedade como a saúde é tratada em outros Estados do Brasil, diante da presença de surtos pela bactéria Acinetobacter Baumannii.


A presença da Acinetobacter em Alagoas desde 2010

Em outubro do ano passado publiquei com exclusividade a notícia sobre a presença da superbactéria em nosso Estado,precisamente no Hospital  Geral de Alagoas além de disponibilizar na época  diversos artigos sobre o tema. Somente em 2011 após a grande imprensa local divulgar o surto da superbactéria depois do comunicado realizado pelo Hospital Universitário, houve um " pronunciamento " oficial do Estado de Alagoas sobre o caso,porém sempre com uma   tendência a descaracterizar a gravidade do problema.Em algumas chamadas na internet  havia a tentativa de negação da  importância da Acinetobacter como problema de saúde pública e como se ela não fosse pertencente a classe das bactérias consideradas como multirresistentes , de acordo com a norma técnica  n* 1/2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ,que assim considera:

"São considerados, pela comunidade científica internacional, patógenos multirresistentes causadores de infecções/colonizações relacionadas à assistência em saúde: Enterococcus spp resistente aos glicopeptídeos, Staphylococcus spp. resistente ou com sensibilidade intermediária a vancomicina, Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, e Enterobactérias resistentes a carbapenêmicos (ertapenem, meropenem ou imipenem)."(ANVISA)

 Claramente para os profissionais de saúde as chamadas com os "esclarecimentos " formulados para explicar a presença da acinetobacter ,nada explicavam ,e simplesmente passavam  a impressão  para a sociedade de não existir nenhuma gravidade,já que o comunicado que foi colocado na imprensa local era que a superbactéria encontrada não era a tão conhecida e "temível" Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase (KPC) !  Bravooo !!!  Porém  totalmente ilógico,   porque no caso em tela o que estava existindo aqui em Alagoas era a presença de uma outra superbactéria ,a acinetobacter, igual ou pior em gravidade a KPC quando instalada em susceptíveis,  com danos severos de morbi-mortalidade  aos acometidos.Recordo muito bem uma das suas chamadas! "Sesau confirma que mortes no HU não foram causadas por Superbactéria KPC" . Em outra nota  "  Especialista diz que infecção por bactéria tem tratamento" e continua : "A bactéria Acinetobacter baumannii não é tão letal quanto muitos acreditam" (Provavelmente após as notas , muitos disseram: Graças a Deus, vamos esquecer o caso) Obs: Seria bom que a especialista fizesse uma leitura dos artigos : http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5345a1.htm  =
http://alagoasreal.blogspot.com/search/label/acinetobacter

O  Paciente acometido pela Superbactéria na Enfermaria do HGE

O Paciente que em dezembro de 2010, estava acometido com a superbactéria  Acinetobacter baumannii Pan- Resistente no HGE , encontrava-se  no  leito 1 , em uma  enfermaria com outros pacientes que não tinham a infecção pela baumannii,ou seja ele não se encontrava em enfermaria exclusiva conforme  recomenda a ANVISA nas medidas de precauções de contato.Na cultura que foi obtida da secreção traqueal do paciente ,constava claramente no prontuário que  a Bactéria  encontrada era a   Acinetobacter Baumanni  pan-resistente,ou seja : Resistente a todos os antimicrobianos testados(de acordo com as recomendações do CLSI) Anvisa

NOTA: Conceitualmente, são definidas como multirresistentes as cepas de A. baumannii que são susceptíveis aos carbapenems, amicacina, sulbactam e minociclina; e como pan-resistentes que são resistentes inclusive aos carbapenêmicos e, usualmente, sensíveis às polimixinas, como a colistina. No en tanto, já podem ser encontrados relatos sobre resistencia a esta última.


Ainda  em sua hemocultura (cultura do sangue) havia a presença de mais uma bactéria , o Staphylococcus Sp coagulase- negativa resistente ao antibiótico oxacilina, conforme exames no referido prontuário.

Foi sugerido então na época  pela CCIH(Comissão de controle de Infecção Hospitalar ), o isolamento de contato para o mesmo,além do uso de Vancomicina e Polimixina B. Infelizmente o paciente faleceu!

Outra paciente com a bactéria Pan- Resistente em março de 2011

As recomendações da ANVISA  diante da presença nosocomial de bactérias multirresistentes  parece que  na época ainda não tinham sido assimiladas ! Em março de 2011 , a paciente M.C, encontrava-se  com Acinetobacter no leito  de uma  Enfermaria onde havia outros pacientes   portadores de outras patologias.

Observação de uma médica   do HU

Lendo uma entrevista da Dra.Raquel Guimarães chefe do Núcleo de Epidemiologia do Hospital Universitário dada a um portal de Alagoas ,uma frase chamou a minha atenção : “Essa bactéria tem aparecido no noticiário com frequência porque ela vem sendo diagnosticada com mais rapidez, e também porque os hospitais não escondem o problema”.

Concordo com a mesma se ela fizer referência na frase ao H.U, que não omitiu a presença da bactéria, e tornou público ,como é o esperado nestes casos, adotando o preconizado pela ANVISA.

Foi  ainda noticiado pela imprensa local que não deveria existir preocupação e nem o alarde diante da presença da Acinetobacter   , porém quando eu  penso no  HGE   , vejo que é impossível  seguir a recomendação diante dos fatos que já foram expostos!

Medidas Simples que fazem a Diferença

O Dr. João Batista,pediatra do H.U em entrevista a um site local resumiu em uma pequena frase o que todos os hospitais deveriam fazer : "Ficaremos em permanente fiscalização, esses organismos podem aparecer em qualquer lugar. Reforçaremos os cuidados de orientação com limpeza e higiene que a gente faz, desde o uso de aparelhos até profissionais que manuseiam os pacientes."

A nota técnica da ANVISA de 25/10/2010

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou  uma nota técnica em 25 de outubro de 2010 n* 1/2010   com "medidas para identificação, prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde por microorganismos multirresistentes". No documento  estão expressas as medidas de prevenção e controle de infecções que devem ser adotadas nos casos de KPC e outros germes multirresistentes. Dentre as recomendações, há orientações para a manutenção da vigilância, o fortalecimento do uso racional de antibióticos dentro dos hospitais, e a ênfase na lavagem das mãos por profissionais de saúde e visitantes.

O documento também reforça que as unidades de saúde precisam comunicar os casos aos demais entes que compõem a organização nacional de prevenção e controle de infecções. E informa quais são os outros germes considerados multirresistentes, com potencial de causar infecções: Enterococcus spp, Staphylococcus spp, Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii. 


Condutas tomadas em outros estados na presença da acinetobacter Pan -resistente


Assistam ao vídeo e vejam o exemplo da Secretaria da Saúde de um pequeno município do Mato Grosso, chamado de Nova Monte Verde, diante da possibilidade de seu único hospital ser afetado pela bactéria Acinetobacter baumannii . Vale a pena assistir e serve de aprendizado para os  gestores!



 Alguns links sobre a presença da Acinetobacter em outros Estados do Brasil

A- publicado em 08/12/2010 às 10h01: UTI de hospital de Porto Alegre deve reabrir amanhã após infecção por bactéria -Dois bebês foram infectados pelo micróbio Acinetobacter

B-publicado em 07/12/2010 às 13h55: UTI é fechada no RS após confirmação de bactéria-Micro-organismo afeta principalmente os pacientes mais debilitados


C- Geral | 02/04/2008 | 18h37min Secretaria da Saúde confirma endemia bacteriana em Porto Alegre-Foram registrados 50 casos de infecção em hospitais da Capital desde março



D-Bactéria interdita UTI de Trauma de hospital no RS 28 de março de 2008 • 16h11 • atualizado às 17h34 


E-05/11/2010 - 10h13 Hospital inicia combate a bactéria super resistente em Alta Floresta.



F-24/05/2009 | 23h00min Deve ficar fechada por mais 15 dias a UTI do Hospital Regional de São José



G- Bebês são contaminados por bactéria em UTI no PR 04 de setembro de 2007 • 08h03 • atualizado às 08h08 



H-16/12/2010 - 14h16 - Atualizado em 16/12/2010 - 14h16 -Hospital Rio Doce é isolado por causa de bactéria

Conclusão

Em  outubro de 2010 enquanto os pacientes estavam sendo acometidos na UTI e enfermarias do HGE pela bactéria Acinetobacter baumannii, eram  produzidos pelo Governo do Estado de Alagoas   filminhos de" Utilidade Pública " maciçamente veiculados em sites locais e nos canais de Tv, mostrando possivelmente estradas em construção,casas que foram destruídas pela enchente.Portanto, experiência com propaganda já existe, e  para finalizar a postagem , sugiro então que agora   sejam produzidas as vinhetas  de utilidade realmente pública,que  assumem um papel de  extrema  importância na educação,orientação e esclarecimento para a sociedade sobre o que realmente tem acontecido com a presença em Alagoas de uma bactéria(Pan Resistente, superbactéria ou multirresistente) ,recebendo a sua  designação conforme o sinônimo que mais venha a agradar  ao gestor da saúde local !

Mário Augusto

É importante não esquecer o princípio geral contido no artigo 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal: “Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

Se copiar é obrigatório colocar
 o link do blog ALAGOAS REAL




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