Um distante 15/10/2007, oito da manhã...


Desde 15/07/2007, às oito da manhã, que a OAB de Alagoas, Ministério Público Estadual e Judiciário de Matriz de Camaragibe sabem das denúncias de tortura contra um jovem na cidade, praticadas pelo delegado Belmiro Cavalcante e os guardas municipais José Petrúcio e José Adriano dos Santos.

30 de novembro de 2010: eles continuam na delegacia.

Violência escabrosa

No Litoral Norte do Estado encontramos Matriz de Camaragibe, uma cidade de aparência pacata, mas que silencia alarmante situação de violência institucionalizada promovida por aqueles que em tese, têm o dever de garantir a paz e ordem: autoridades policiais e guarda municipal. O mais curioso, e também lamentável desse fato, é que essa violência tem como foco crianças e adolescentes. Enquanto o poder público não investe em políticas que beneficiem esse frágil segmento populacional, a chefia da guarda municipal - certamente por desconhecer leis civis e direitos humanos - se reveste de justiceiro para agredir a infância e juventude, utilizando inclusive arma e algema, no afã de criar espetáculos e promover terror entre meninos pobres da periferia matrizense. Nesta história, será que é visível a conivência do prefeito e vereadores, por falta de uma posição contrária até o instante? Na delegacia regional do município, o mais escabroso acontece, quando policiais civis recebem um adolescente aos safanões, batendo e empurrando para dentro do camburão.

Também acontece de esses policiais levarem o adolescente algemado com os braços para trás, dentro da grade da parte traseira do camburão - sem possibilidade alguma de apoiar-se - e propositadamente aceleram e fazem manobras com requintes de maldade, no intuito de machucar. Mas o pior ainda está por vir. E chega, quando o adulto responsável pelo adolescente procura o delegado da cidade, Belmiro Cavalcante, para apresentar-se e resolver a questão, sendo por conta desse gesto, maltratado e até mesmo ameaçado de ser posto na cela pelo desacato de falar, como um súdito indisciplinado diante do trono do rei.

Como se tudo isso não bastasse, esse adulto, um primoroso avô de 67 anos, morador de Matriz há 37 anos, é obrigado a contemplar, impotente, a humilhação a que o neto foi submetido depois de vários episódios de torturas físicas e psicológicas, quando o delegado o trata pelos termos "mal-elemento", "marginal", "maconheiro" e coisas do gênero, tão em voga no linguajar da nossa polícia de qualificação duvidosa e representação despótica.

E a saga se completa quando o mesmo delegado recebe diversas li-gações de pessoas ligadas aos órgãos defensores dos Direitos e Humanos e cúpula da Segurança Pública estadual e liberta, enfim, o adolescente vencido e exposto ao julgamento da sociedade, entregando-o à família arrasada. O CRIME: JUNTO COM DOIS AMIGOS O CITADO ADOLESCENTE ATIROU UMA PEQUENA PEDRA, QUE BATEU NO CARRO DA GUARDA MUNICIPAL E NÃO DEIXOU SEQUER UM ARRANHÃO! Esse certamente não é um fenômeno isolado, o que não diminui o tamanho do crime cometido pelo Estado contra adolescentes e suas famílias, que por sinal pagam impostos e por essa razão policiais e delegados recebem seus salários! Somos nós, cidadãos e cidadãs alagoanos quem pagamos os salários dos déspotas armados que oprimem nossa infância e juventude abertamente na cidade de Matriz de Camaragibe.

Numa história onde tudo é muito grave, um fato ainda mais grave surge: os envolvidos na violência instituciona-lizada provavelmente desconhecedores das leis e acostumados a vencer sempre, nem que seja pelo uso da força ou do corporativismo, não conseguem admitir seu erro. E agora, estão empe-nhados em criar "um marginal" para justificar seu crime! O citado adolescente, traumatizado, submetido a acompanhamento psicológico e tratamento médico de outras naturezas, ainda está na mira dessas autoridades, que certas da sua periculosidade, andam a caça de provas de crimes anteriores, mesmo sabendo que estes crimes não existem. Absurdo? O mais absurdo é que essa tentativa de transformar um jovem em criminoso, sem carregar qualquer crime, veio à baila numa reunião entre as autoridades constituídas desta cidade.

Tal fato acontece justamente em Matriz de Camaragibe, quando, no dia 17 de maio de 2005, o prefeito Marcos Paulo do Nascimento foi preso, algemado e recolhido à carceragem da Polícia Federal, acusado de participar de uma suposta quadrilha de roubo de merenda escolar, e seu nome exposto à execração pública na imprensa nacional. Como reagiram seu três filhos ao verem seu pai sendo chamado de "prefeito Guabiru" ou ratazana, como é o significado do "apelido" fornecido pela PF? Qual a reação de sua esposa, ao ver seu marido dividindo o mesmo espaço de criminosos perigosos? Agora provoco: o que dizem vocês que se indignaram com as algemas nas mãos do prefeito acusado de desviar dinheiro de merenda, sabendo que por lá, agora, estão algemando e torturando crianças traquinas? Cobramos pronunciamento.

Texto original aqui: http://www.extralagoas.com.br/noticia.kmf?noticia=6577210&canal=335 

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