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O primeiro congresso médico em Alagoas

Agatângelo Vasconcelos *

O primeiro congresso médico realizado em nosso estado, ocorreu em Maceió durante os dias 05 a 10 de junho de 1933. Teve lugar nas instalações do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, sendo uma realização da Sociedade de Medicina de Alagoas (SMA). Por seu importante significado científico para a Medicina da época, e por sua perene importância como fato histórico, consideramos valioso traze-lo, como memória, à observação dos tempos atuais. Para tanto, valemo-nos de um trabalho do saudoso professor Luiz da Rocha Sampaio, publicado na revista “Consulta”, órgão oficial da nossa associação medica (edição de janeiro de 1991), bem como da também consultamos os jornais da época, particularmente o Jornal de Alagoas e o Diário Oficial do nosso estado.

Estatutariamente deve a SMA realizar periodicamente conclaves científicos que visam aprimorar o conhecimento médico e cultural dos seus associados. Estes congressos iniciaram-se em 1933, mas, por razões diversas, só alcançaram a dez, sendo o mais recente realizado em 2005. Após aquele de 1933, longo intervalo ocorreu até que no final da década de setenta a SMA efetuou o seu segundo congresso. Novo interregno e somente em outubro de 1988 foi realizado o terceiro congresso, com abertura dos trabalhos feita pelo professor Antônio Celso Nunes Nassif, então presidente da Associação Médica Brasileira. A partir de então a SMA vem efetuando seu evento mais significativo com satisfatória freqüência.

O nosso primeiro congresso foi planejado pelo professor Abelardo Duarte, então presidente da SMA, a quem se deve igualmente, como se sabe, a idéia inicial que levou ao estabelecimento do ensino médico em Alagoas. Numa Assembléia Geral da instituição, ocorrida no dia 21 de fevereiro do ano acima referido, a sugestão de Abelardo Duarte foi discutida e aprovada, decidindo-se ainda que à diretoria da própria SMA caberia tomar as providências iniciais até a constituição de uma Comissão Executiva. Esta comissão, que seria encarregada de realizar o desejado encontro científico, ficou assim constituída: Presidentes de Honra: o Interventor Federal, capitão Afonso de Carvalho e o Dr. Ezequias da Rocha diretor da Saúde Pública do Estado. Presidente: Dr. José Carneiro de Albuquerque. Vice-presidente: Dr. Manoel Brandão. Secretário Geral: Dr. Abelardo Duarte. Secretários: Drª. Lily Lages, Drs. A.C. Simões e Théo Brandão. Orador: Dr. Sebastião da Hora e Tesoureiro: Dr. Edgar Taveiros. Antes, porém, que a dita comissão iniciasse os seus trabalhos, entendimentos já haviam sido mantidos com o Interventor Federal em Alagoas, que nobremente colocou-se à disposição dos nossos esculápios, inclusive oferecendo patrocínio oficial para o conclave que se pretendia. Outro apoio governamental veio através do Dr. Ezequias da Rocha (eminente psiquiatra e político dirigente a Saúde Pública Estadual) que elaborou um regimento para o congresso e o publicou em boletim, às expensas do erário. Convites foram expedidos a todos os médicos do estado, não apenas aos da capital, chamando-os a participar do que seria o I Congresso Médico de Alagoas.

Iniciando a Comissão Executiva a sua atuação, aprovou o regimento, bem como os temas oficiais, e passou a tomar as demais iniciativas para a concretização do evento. A Sessão Solene de Abertura também foi realizada no Instituto Histórico, tendo a mesa dirigente sido composta pelas seguintes autoridades: Interventor Federal Cap. Afonso de Carvalho; Dr. Ezequias da Rocha, diretor da Saúde Pública do Estado; Dr. Abelardo Duarte Secretário Geral; Dr. Sebastião da Hora, orador oficial; Dr. Orlando Araújo, Presidente do Instituto Histórico; Dr. José Maria Correia das Neves, Secretário do Interior; cônego Lira, representante do Arcebispo Arquidiocesano; Dr. Théo Brandão, secretário da mesa. Um grupo de alunas da Escola Normal prestigiou a ocasião entoando o Hino de Alagoas ao início da solenidade e a Banda da Força Policial Militar tocou no “terrasse” do prédio onde aconteceu o evento, noticiaram os jornais. Há um registro fotográfico estampado em um dos dias subseqüentes pelo periódico “O Diário de Alagoas”, mostrando a instalação do congresso. Doze foram os temas oficiais abordados: I – Da filariose; II – Etiologia da rinofaringite endêmica; III – Da mortalidade infantil, suas causas e meios de combate-las; IV – Higiene industrial; V – Da tuberculose; VI – Organização sanitária municipal; VII – Da esquistossomose; VIII – Profilaxia das endemias rurais; IX – Das febres tifóides e para-tifóides; X – Abastecimento de água e leite em Maceió; XI – Do tracoma; XII – Das disenterias. Por suas contribuições, destacaram-se os seguintes congressistas: Drs. Ezequias da Rocha, José Lages Filho, Abelardo Duarte, Sebastião da Hora, Melo Mota, Emanuel Sampaio Costa, José Maria de Melo, José Carnaúba e Alfredo Rego.

Do interior do estado apenas aderiram ao conclave os profissionais a seguir mencionados: Júlio Plech, de São Miguel dos Campos; Oceano Carleial, Itamar Tavares e Luiz Navarro, de Penedo; José Soares Vasconcelos, de Capela, e Audálio Costa, de Palmeira dos Índios. Por outro lado, estudantes da Faculdade de Medicina e Farmácia de Pernambuco, juntamente com um dos seus professores, compareceram ao congresso em referência, o que, como disse Luiz da Rocha Sampaio, de certa maneira regionalizou o encontro, ampliando as suas dimensões. Ao término do mesmo, houve um almoço no restaurante “Grande Ponto”, na Rua do Comércio, localizado onde posteriormente foi construído o edifício sede do extinto Produban (Banco da Produção de Alagoas).

Assim o I Congresso Médico de Alagoas foi efetuado, e com muito sucesso. Lamentavelmente as contribuições científicas não foram reunidas para publicação sob a forma de anais, como se costuma fazer para que o encerramento das atividades de um acontecimento desse porte não signifique, também, o seu fim, por quase completo esquecimento. Mais lamentável ainda: algumas fotografias do encontro médico em apreciação, pertencentes ao acervo particular do Dr. Luiz Sampaio, e que estavam em exposição durante a realização do III Congresso Alagoano de Medicina (1987), desapareceram desde então.
“O tempora! O mores!”.

(*) É médico e sócio-efetivo do IHGAL



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