Maior surto de meningite fúngica nos EUA está ligado a cirurgias estéticas no México
Um relatório publicado na Clinical Infectious Diseases detalha o maior surto de meningite fúngica causado por espécies do gênero Fusarium já registrado nos Estados Unidos. O surto ocorreu em 2023 e envolveu pacientes que receberam anestesia peridural para cirurgias estéticas em clínicas de Matamoros, no México, com o mesmo anestesiologista.
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| Cirurgia estética |
Dos 24 casos confirmados, 12 evoluíram para óbito. Segundo os autores, o episódio reforça a importância de médicos considerarem meningite fúngica em pacientes com sintomas neurológicos e culturas negativas para bactérias e vírus, especialmente se houver histórico de anestesia peridural.
“A meningite fúngica associada a cuidados médicos é rara, mas pode ser letal e causar sequelas duradouras”, alertam os especialistas. “Seu diagnóstico é desafiador, pois os sintomas são inespecíficos e muitas vezes confundidos com infecções bacterianas ou virais.”
Cirurgias estéticas e contaminação
A investigação conduzida pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) começou após duas mulheres — de 34 e 52 anos — serem hospitalizadas no Texas, após realizarem procedimentos cosméticos em Matamoros. Uma delas sofreu hemorragia intracraniana e morreu logo após a internação.
As autoridades rastrearam pacientes que passaram pelas duas clínicas entre 1º de janeiro e 13 de maio de 2023, período em que os estabelecimentos ainda estavam operando. O procedimento mais comum entre os afetados foi a lipoaspiração, realizada em 21 dos 24 pacientes infectados. Os sintomas mais frequentes incluíram dor de cabeça, náuseas e rigidez na nuca.
Perfil dos pacientes e rotas de contágio
Dos 223 residentes dos EUA potencialmente expostos, 170 responderam aos contatos das autoridades sanitárias. Destes, 61% afirmaram ter recebido anestesia peridural nas clínicas, e 29% realizaram punção lombar para diagnóstico. O sequenciamento genético confirmou a presença do complexo Fusarium solani em todos os casos diagnosticados — 23 mulheres e um homem — com material genético semelhante em isolados das duas clínicas.
Quase metade dos pacientes que responderam a um questionário afirmou ter procurado cirurgia estética no México devido aos altos custos nos EUA. A maioria foi orientada por amigos ou parentes (33%), e outros chegaram às clínicas por meio de anúncios nas redes sociais (17%).
Resposta ao surto e uso de medicamento experimental
As autoridades de saúde atualizaram protocolos clínicos e diagnósticos e passaram a utilizar o antifúngico experimental fosmanogepix. Dos 18 pacientes que receberam antifúngicos convencionais, metade morreu. Já entre os sete pacientes tratados com fosmanogepix, seis sobreviveram.
Riscos do turismo médico
Os pesquisadores destacam que Matamoros faz fronteira com o Texas, onde há altas taxas de pessoas sem seguro de saúde. A falta de cobertura pode ter atrasado a busca por atendimento, agravando os casos.
“A ausência de seguro ou de financiamento emergencial para exames, internação e tratamento pode ter contribuído para o desfecho de muitos casos”, observam os autores.
Eles recomendam ampliar a comunicação de risco em idiomas acessíveis aos pacientes, especialmente sobre os perigos do turismo médico. Segundo o relatório, o governo mexicano ofereceu testes e tratamento gratuitos a seus cidadãos expostos.
“Melhorar a comunicação sobre riscos e incentivar a consulta médica prévia com profissionais nos EUA pode reduzir infecções futuras e aumentar a consciência sobre os padrões de segurança em instalações médicas internacionais.”
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