Reflexões sobre saúde pública, por Celso Tavares

hórus

 "Olho de Hórus" um símbolo mitológico do Egito antigo, que significa proteção, restabelecimento da saúde, intuição e visão.



SOBRE A PREVENÇÃO


Caríssimos, 
1) Não bastassem as tempestades que deveremos enfrentar futuramente devido as baixas coberturas vacinais e o mal uso dos antimicrobianos defrontamo-nos com mais um baita problema:
2) Os mutirões de testagem vêm apresentando resultados preocupantes, detectando sistematicamente casos suspeitos de HIV, Sífilis e Hepatites B e C;
3) As pesquisas vêm corroborando uma informação que já é do nosso conhecimento há um bom tempo: o número de pessoas que praticam sexo desprotegido vem aumentando gradativa e inexoravelmente;
4) As campanhas publicitárias institucionais não são eficazes, não justificando os milhões de reais nelas gastos;
5) O suprimento regular dos tratamentos específicos contra as Hepatites crônicas e a AIDS, assim como os medicamentos prescritos para o controle das infecções oportunísticas, começa a apresentar falhas;
6) Resumo: a prevenção deficiente + possível falha no suprimento regular de antivírus e de medicações específicas contra infecções oportunísticas = retorno aos anos 1980, com um excesso de mortalidade amoral e falta de leitos, especialmente os de UTI.




EPIDEMIAS NA VENEZUELA


Caríssimos,
A Venezuela defronta-se com epidemias de sarampo e difteria. Com a movimentação ocorrida na fronteira, devemos elevar as nossas coberturas vacinais. Convém registrar que a América do Norte e a Europa também se tornaram motivo de preocupação, tendo em vista os diversos surtos de doenças imunopreviníveis que por lá grassam.
Não gostaria de ver as enfermarias do nosso Hospital de Doenças Tropicais Hélvio Auto voltando ao passado, como nos anos 1970, quando comecei a frequentá-lo, repletas de pacientes com tétano, difteria, poliomielite, sarampo, caxumba, meningites meningocócica, pneumocócica e por haemophilos...
Considerando a degradação que destrói o nosso País, parece-me que teremos que conviver com sofrimentos e mortes que deveriam fazer parte do nosso passado. Deveríamos estar celebrando e fortalecendo o PNI, cujas ações nos levaram a um novo patamar de Saúde, ao invés de tentarmos destruí-lo. Não falarei, por desnecessário, sobre os atentados que gravaram as Vigilâncias e a Assistência.
Hoje, teríamos dificuldades em oferecer boa assistência aos nossos pacientes, graças ao desmonte que o Estado patrocina e a Sociedade assiste passivamente. Quantos médicos já viram um caso de "crupe" ou de tétano umbilical?
Essa tragédia lembra-me o Titanic rumo ao iceberg com uma tripulação incapaz de desviá-lo do seu fim.
Preparemo-nos. Que os Cursos da área da Saúde ressucitem essas aulas, que as tornem "cláusulas pétreas" do currículo, que convidem os 'velhinhos' que viveram plenamente as epidemias que se repetiam para compartilhar as suas experiências.
Finalmente, que, não sei como, saíamos desse marasmo,
Que tenhamos um domingo de Paz,
Celso Tavares.




Algo sobre a creche de Minas Gerais.


Os pacientes que necessitam de cuidados psiquiátricos estão completamente desassistidos: fecharam os hospitais, o mesmo ocorreu com os ambulatórios, quase não há CAPS e os que estão abertos não fazem frente às demandas. Os doentes estão abandonados e correndo grandes riscos, certamente inaceitáveis, com alguns vivendo nas ruas, comendo restos nas lixeiras, situação deplorável, que leva as famílias e a população a viver situações que podem expô-las a perigos imprevisíveis e desnecessários.


Não bastasse isso, esses pacientes, alguns psicóticos, muitas vezes estão internados em clínicas de dependência química, o que só agrava o caos já existente.


A luta antimanicomial, talvez pela sua própria denominação, centrou seu esforços em fechar os hospitais e foi incapaz de ver o cidadão, o paciente em toda a sua plenitude. Na época, pareceu-me que os seus autores, prenhes de certezas, falharam na avaliação dos diversos cenários, esquecendo-se do amplo espectro das manifestações neuropsiquiátricas e do mundo onde vivem os pacientes e suas famílias.


Precisávamos de uma REFORMA, o que garantiria a melhor assistência aos pacientes, desde do atendimento a uma crise de ansiedade aos que apresentam agitação psicomotora ou põem suas vidas em risco. Teríamos, por imperativo, o fechamento de alguns manicômios, mas deveríamos manter unidades de referência capazes de atender dignamente aqueles que na crise não podem permanecer nos seus lares.


Optou-se por um CISMA e agora vivemos uma situação grave, pois o SUS continua atravessando a sua perene crise e parece incapaz de de garantir os mínimos direitos a esses cidadãos.
Celso Tavares




SOROLOGIA NA ESQUISTOSSOMOSE


Caríssimos, em Alagoas, área endêmica de Esquistossomose mansônica, devemos avaliar com muita Sabedoria a utilização e os resultados dos exames sorológicos.
1. Em indivíduos procedentes de áreas endêmicas ou com antecedentes epidemiológicos relevantes, as reações cruzadas com um sem número de patógenos prevalentes ocorrem frequentemente.
2. O resultado não permite definir se o paciente apresenta uma infestação passada ou se ela é atual, pois apenas detecta IgG.
3. O exame permanecerá reagente por longo tempo, mesmo se o paciente tiver sido devidamente tratado e curado.
4. Não devemos, pois, prescrever Praziquantel por o paciente apresentar exclusivamente um exame sorológico reagente.
5. Se houver antecedentes epidemiológicos ou manifestações clínicas que levem à suspeição da Esquistossomose, o resultado positivo do exame apenas reforçará a hipótese diagnóstica.
6. O resultado merecerá atenção se o paciente proceder de uma área isenta dos nossos parasitos, como a Suíça, por exemplo.
7. É, pois, uma prática carente de fundamentação a prescrição de Praziquantel para um indivíduo aparentemente sadio, sem antecedentes epidemiológicos ou manifestações clínicas relevantes.
8. Acredito que a ocorrência de uma reação medicamentosa indesejável com o Praziquantel após uma prescrição indevida poderá acarretar penalidades para o prescritor.
9. Na suspeita bem fundamentada, cabe a solicitação de um >hemograma<, buscando uma eosinofilia, de >ALT, AST e GGT<, à cata de elevações discretas, se pertinente, uma >ultrassonografia do hipocôndrio direito<, por possível comprometimento periportal e, finalmente, por essencial, a realização do >parasitológico das fezes<, com três a cinco coletas em dias alternados, o que aumenta a probabilidade de detecção do S. mansoni.
10. Receio, seriamente, que logo tenhamos a Imprensa a noticiar que Alagoas vive uma epidemia de grande magnitude da Esquistossomose.
Paz e Saúde,
Celso Tavares


FEBRE AMARELA


Caríssimos,
A reurbanização da FA é uma questão complexa. Na África, as infestações que justificam as epidemias urbanas são miseravelmente elevadas, sempre acima de 20%.
As infestações aqui no Brasil não chegam a tanto. Lastimavelmente, o programa de controle vem sofrendo um processo de deterioração que justifica a ocorrência simultânea de Dengue, Zika e Chikungunya. Devemos, pois, estar atentos ao tal Indice de Infestação Predial, avaliando a sua veracidade e desenvolvendo ações para reduzi-lo ao mínimo possível.
As cidades incham e o fornecimento de água, a coleta de resíduos e a imundície são grandes problemas. As elevadas densidades demográficas são um baita complicador. Temos o cenario ideal para a irrupção de grandes epidemias.
É como se a Sociedade e os Poderes Públicos torcessem por um desastre perfeito.
O danado é que as cidades estao invadindo as matas. E daí? Esse aspecto é relevante e merece atenção.
Ressalto que respeito, respeito muito o Aedes aegypti e os vírus e, assim sendo, creio que a discussão sobre os índices de infestação predial e a competência vetorial do Aedes e reurbanização da FA são equações com milhares de incógnitas e variáveis. São fatos intrincados e, às vezes, de difícil compreensão.
A leishmaniose foi "urbanizada". E aí? Podemos, também, "reurbanizar" a FA tendo como vetores os mosquitos silvestres.
Os loteamentos de luxo e as favelas estão invadindo as matas. Os Haemagogus e Sabethes distinguirão que essa excrescência é urbana ou silvestre? Deixarão, por isso, de picar os moradores? A FA será urbana ou Silvestre? Como se comportaria o Aedes?
E a grande autonomia de vôo dos Haemagogus? 
E se Darwin resolver visitar a Terra e o Aedes, em sua homenagem, sofra uma mutação e reassuma a sua competência vetorial?
E o Aedes albopictus? Permanecerá como espectador?
E o imponderável?
Pois é, caríssimos. Estamos perante um grande problema e cabe a questao: por que não fazermos uso dos conhecimentos e tecnologias que dispomos e passamos a viver civilizadamente com os micróbios e insetos?
Finalmente, é imperioso registrar que profissionais de conhecimento e experiência reconhecidas insistem há muitos anos para que a vacina anti-amarílica seja introduzida na rotina do PNI em todo o Brasil. Dessa forma, na rotina, trabalhando na PAZ, evitar-se-ia a maioria das reações adversas, o principal argumento dos que discordavam da proposta. Não faltariam vacinas e centenas de famílias não estariam chorando por mortes tecnicamente evitáveis.
Celso Tavares


Obs: Textos recebidos por e-mail. Publicação autorizada pelo autor Dr. Celso Tavares






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