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O alarme dos macacos - Rotas da Febre Amarela


O alarme dos macacos

O alarme dos macacos - Rotas da Febre Amarela no Brasil


Nas três últimas semanas de dezembro de 2017, o ecólogo Márcio Port Carvalho, pesquisador do Instituto Florestal de São Paulo, recolheu 65 bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) mortos pelo vírus da febre amarela no Horto Florestal, parque estadual na zona norte da capital paulista, com outros biólogos e equipes da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Ambiental. “Praticamente todos os bugios do Horto morreram. Conhecíamos todos os 17 grupos”, conta ele.

Para os seres humanos, o vírus da febre amarela pode ser fatal, mas pode ser detido pela vacinação. Para os macacos, para os quais não há vacinas, está sendo catastrófico. Os órgãos públicos de saúde registraram a morte de mais de 2 mil animais – principalmente bugios – durante o surto de 2008 e 2009 no Rio Grande do Sul, mas o efeito do vírus deve ter sido mais amplo. Biólogos e epidemiologistas estimam que o número de primatas silvestres mortos por causa da febre amarela registrados em áreas urbanas corresponda a apenas 10% do total exterminado pela doença. Os outros 90% morrem no interior das matas, deterioram-se e não são encontrados. Calcula-se que cerca de 1,3 mil macacos devam ter morrido no Espírito Santo e 5 mil no estado de São Paulo em 2017.

As mortes dos macacos indicam as áreas de maior risco de transmissão do vírus da febre amarela e orientam as campanhas de vacinação (ver quadro). “Sem os macacos, estamos desprotegidos para perceber a chegada e os deslocamentos do vírus”, alerta o biólogo Júlio César Bicca Marques, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “Antes de começar o monitoramento das mortes de macacos, o mapeamento da febre amarela dependia somente das pessoas que adoeciam e morriam”, diz o biólogo Renato Pereira de Souza, diretor técnico do núcleo de doenças de transmissão viral do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo. “Só apareciam os casos graves, porque as pessoas com os sintomas mais leves não iam até os hospitais para se tratar.” O Ministério da Saúde propôs em 1999 aos órgãos de saúde o acompanhamento das mortes de macacos como estratégia para identificar as novas áreas de transmissão do vírus e planejar as medidas de proteção dos moradores das cidades, principalmente das áreas próximas a matas.

A febre amarela silvestre é causada por um vírus transmitido a macacos pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, após se alimentarem do sangue de macacos infectados. Os insetos repassam o vírus para novos macacos e eventualmente para seres humanos que entram na floresta. Os macacos não transmitem o vírus diretamente às pessoas. “Doenças como a febre amarela podem causar a extinção local de espécies de primatas e devem chamar nossa atenção porque esse tipo de ameaça se adiciona a outras, como a perda de hábitat e a caça”, diz a bióloga Laurence Culot, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. “Os primatas são vítimas duas vezes: da doença, à qual algumas espécies são muito sensíveis, e da perseguição das pessoas, que acham erradamente que são os primatas que causam a doença e os matam, pensando que assim iriam resolver o problema.”



Autor: CARLOS FIORAVANTI
Fonte: fapesp
Sítio Online da Publicação: fapesp
Data de Publicação: 21/01/2018
Publicação Original: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/01/11/o-alarme-dos-macacos/



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