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“Memórias do Chumbo – Operação Condor” :a relação do futebol com as ditaduras no Cone Sul

O objetivo da série é mostrar como as ditaduras da América Latina, que integraram a Operação Condor (ação multinacional para exterminar a oposição de esquerda aos governos ditatoriais), estiveram presentes no futebol. À IMPRENSA, Castro disse que a motivação para estas reportagens surgiu do chavão “a ditadura usou o futebol”. Como ele destaca, apesar desta certeza,ninguém havia se debruçado a fundo sobre o assunto. Diante deste quadro, uniu o faro jornalístico com a experiência de historiador e foi a campo pesquisar o tema. O resultado é a série de quatro capítulos que a ESPN Brasil exibe de 18 a 21 de dezembro, às 20h. Acompanhe a entrevista com o jornalista.


IMPRENSA - Além de jornalista, você é historiador. A união das duas profissões o motivaram a fazer essa série? 
Lúcio de Castro - Sem dúvida alguma a série tem muito das duas profissões. A motivação principal é a de contar uma história ainda cheia de lacunas, principalmente aqui no Brasil. Nossos vizinhos têm tratado melhor a memória desse período. Na Argentina, por exemplo, existe um número incontável de grandes reportagens e documentários sobre o tema. O que sempre me intrigou e me motivou muito para o assunto é que ele viveu sempre de um chavão: “A ditadura usou o futebol”. OK, mas como foi isso? A democracia muitas vezes também usa o futebol. Então era preciso ir além. Como a ditadura usou o futebol? Na prática, como isso se deu? Quem? Quais foram as principais vítimas disso? No fundo, aquelas perguntas básicas do jornalismo, na verdade, não tinham sido tiradas do papel ou ido além. A série tenta traçar um painel das ditaduras no continente nesse período com o futebol paralelo. Existiu algo pensado para o futebol naquele momento pelas ditaduras? Como foi esse controle? Eram muitas perguntas que precisavam de resposta. E outras tantas, muito mais do que foi respondido, que ainda precisarão de resposta. 

Poucas pessoas dão importância ao papel do futebol na política, principalmente, durante governos de exceção como as ditaduras do Cone Sul. Essa série ajuda a desmitificar isso?
A série mostra que o futebol esteve sob absoluto controle das ditaduras do continente nos anos Condor. Na verdade, todas essas ditaduras que obedeceram a esse mesmo receituário nos anos Condor foram sociedades extremamente vigiadas pelos serviços de informação. O Brasil foi o pioneiro nesse sentido e desenvolveu esse aparato de informação e vigilância em todos os aspectos da sociedade. Tudo isso é conhecido e o futebol não ficou de fora. No entanto, o futebol não mereceu até aqui essa atenção para entendermos como foi esse controle. Mas vale ressaltar que muitas vezes isso funcionou em mão dupla: assim como o futebol foi usado e aparelhado pelas ditaduras, foi no futebol que muitas vezes surgiram momentos e movimentos de resistência nessas sociedades extremamente vigiadas. E isso era um temor constante dessas ditaduras. Em um estádio de futebol, multidões, em um lugar onde as paixões se acirram, muitas vezes fogem ao controle. Como fugiram. No Chile e no Uruguai existem casos marcantes de atos de resistência ocorridos em estádios quando a sociedade ainda não estava organizada para protestos. Os primeiros atos de resistência surgiram em estádios.


A série vai abordar apenas a influência das ditaduras da Operação Condor no futebol? Quais são as novidades que os programas trazem sobre o tema?
Jornalisticamente o programa traz a confirmação de alguns temas que sempre foram ditos e muitas vezes bem contados, mas jamais confirmados por alguma parte, como no caso da Argentina, onde tantos anos depois, poderemos confirmar um caso envolvendo brasileiros. E diversos fatos novos e rumorosos que estavam mortos em arquivos, levantados por um garimpo cuidadoso e minucioso. Atletas vigiados, atletas simpáticos ao regime, como a repressão esteve dentro da seleção de 70 muito mais do que se imagina e várias outras histórias.



Esta série é um trabalho de fôlego e muita pesquisa. Pretende publicá-la em outro formato? 
Depois de tanto tempo em arquivos, viagens, entrevistas, tive a certeza de que tenho em mãos material para algo como um livro. Mas digo sempre e não é uma brincadeira, que depois do Mário Magalhães lançar o “Marighella”, com tal profundidade e detalhismo, é preciso pensar duas vezes antes de lançar qualquer coisa na área.

A ESPN é um canal diferenciado que abre espaço para pautas como esta da sua série. Acredita que através de reportagens esportivas seja possível educar o brasileiro?
Acho sinceramente que essas pautas não têm essa pretensão nem essa função. A educação deve vir através do ensino mesmo e essas pautas devem ser o que o jornalismo é: uma janela para lançar luz sobre temas escondidos, histórias não contadas por alguma razão ou interesse. E acho também que acima da existência ou não de veículos diferenciados, está sempre o profissional. Onde ele estiver, é possível testar limites, ir além deles. Se o sujeito for acomodado será em qualquer veículo, pode passar 30 anos da profissão onde for que nada vai acontecer. Caso contrário, no mais improvável veículo, no mais alinhado e conservador, ele vai conseguir ampliar esses limites. 



MEMÓRIAS DO CHUMBO- O FUTEBOL NOS TEMPOS DO CONDOR
ESPN Brasil e ESPN Brasil HD, a partir das 20h
Dia 18/12: Argentina
Dia 19/12: Chile
Dia 20/12: Uruguai 
Dia 21/12: Brasil
Fonte:http://portalimprensa.uol.com.br



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