Com IML fechado, exumação de 124 corpos gera impasse em Alagoas
Uma decisão judicial gerou um impasse em Alagoas: os médicos legistas são obrigados a realizar exumação em 124 corpos enterrados, sem necropsia, durante greve dos peritos, mas eles alegam não possuir estrutura física para o trabalho. Enquanto isso, as famílias não podem declarar, oficialmente, que seus parentes estão mortos e deixam de receber pensões ou seguros de acidentes de trânsito.
A espera da família pelo laudo com a causa da morte de Gerson Gonçalves da Silva já dura dois meses. Ele foi baleado nas costas, mas o assassinato coincidiu com a greve dos médicos legistas, que pedem melhores condições de trabalho e salários. Gerson foi enterrado sem o laudo oficial e a viúva espera uma definição sobre a pensão do marido. "Um centavo ao qual eu tenho direito, que ele trabalhou para isso e eu não tenho por não possuir o atestado de óbito", disse a dona de casa, Ana Lúcia Freitas.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (SinMed/AL), Welington Galvão, não será possível atender à ordem judicial. "Como o Estado não criou a condição, o médico não pode executar este trabalho. Ele pode incorrer em erros e pagar por isto depois", disse. O Judiciário decidiu que os corpos devem ser exumados. Em nota, a direção do Instituto Médico Legal Estácio de Lima informou que a decisão dos legistas será comunicada ao Judiciário.
No início da noite desta terça-feira, o coronel Roberto Liberato, que chefiava a Perícia Oficial do Estado, foi exonerado do cargo sem conseguir entendimento com os peritos, que suspenderam a greve a pedido da secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, que comanda, em Alagoas, as ações do plano Brasil Mais Seguro- para redução dos índices de homicídios.
No lugar de Liberato, assumiu o odontolegista João Alfredo Guimarães, que vai reunir os peritos, o Ministério Público Estadual e o Tribunal de Justiça para buscar uma solução ao caso. "Corpos nestas condições podem gerar impunidade. Uma pessoa assassinada por arma de fogo, por exemplo, não é difícil de se atestar a causa da morte. Acidente de trânsito e facada é mais difícil. Pelo estado de putrefação, a causa da morte pode ser não determinada (...). O que falta nestes casos é o laudo cadavérico. Oficialmente, eles estão vivos. Precisamos dizer que eles estão mortos", disse.
Fonte:Terra
Odilon Rios