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FREUD : homenagem de um não-iniciado : o amanhecer das emoções



CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO** 

Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. (** Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 27/6/1996)





O fascínio despertado pela vida e obra de Freud está ocupando o espaço necessário nestes tempos do cinqüentenário de sua morte. Há o combate do avanço da quimioterapia, deitando raízes nas terapias possíveis das doenças emocionais. A descoberta do largo alcance do  diazepínicos e outras drogas poderosas parece a queda da bastilha da alma, que a psicanálise dos primeiros tempos construiu como escora para  salvar o homem pela leitura profunda do armazém ético do seu  inconsciente. Todavia, esta nova tecnologia de livrar o desespero da pessoa humana dos males de sua incompatibilidade com o existir histórico que a realidade lhe impõe não é capaz de espancar a genialidade do  vienense, presença da humanidade que atravessou desde o seu tempo até  o nosso tempo o todo do tempo. 


De todos os modos, é hora de resgatar a psicanálise da  panacéia, redimensionando a sua busca, para que ela própria não seja causa de seu desprestígio. É preciso colher com proveito a lição que Charcot transmitiu ao jovem Freud: a obediência submissa do cientista  aos fatos não é a adversária, mas a fonte e a servidora da teoria. 

Ninguém mais desconhece que várias forças atuam nos primeiros anos de vida para criar condições a uma maturidade neurótica. Não adianta culpar os pais, seja pela superproteção, seja pela subproteção. O fato básico é que a luta pela sobrevivência, em uma sociedade que, cobra o sucesso a qualquer, preço, faz transbordarias deformações adquiridas. E a incompreensão com os episódios neuróticos deságua sempre na destruição da convivência, no apagar de luzes da felicidade, no tropeço com o bem da vida. 

Com Freud, desde a segunda metade do século XIX, foi possível entender que muitos sintomas físicos podem ser enfrentados como conhecimento da alma. A ciência deve ao pai da psicanálise a abertura do inconsciente. 

Os sinais freudianos da disparidade emocional entre o que se deseja e o que se vive, ou, simplesmente, da freqüente repulsa à própria  realidade existencial, é certo que podem encontrar na quimioterapia uma saída, e até mesmo uma cura. Porém, a psicanálise é capaz de curar, se por cura se puder entender à capacidade da inteligência do homem de compreender a sua patologia e fazê-la aliada da vida e não companhia da morte, que nasce no mesmo momento em que a pessoa briga com a vida.


A pessoa humana rege-se pelas afinidades das suas emoções. Essas afinidades medem-se pela intensidade das relações entre a inteligência e a realidade. E daí o segredo do homem ser também a sua  claridade. Foi assim que Freud ensinou a soberania do observador:

Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, convence-se de que os mortais não conseguem guardar segredos. Se os lábios estão silenciosos, eles tagarelam com as pontas dos  dedos; a traição abre seu caminho por todos os poros. 

Freud revelou que cada pessoa humana pode descobrir dentro de si o alimento para viver conscientemente em paz. Olhar para o seu mundo interior, buscar as suas influências, separar o que é seu e o que veio de fora fazem parte da libertação de cada um para viver melhor emais feliz. É o verdadeiro amanhecer das emoções.


Fonte:BDJUR 1989

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