'Eu quero pegar Floro vivo', diz Eloy
"Polícia de Sergipe não me quer vivo"
Por: Fábio Viana e João Augusto Freitas
segurancapublica@cinform.com.br
"Não temos grupo de extermínio na polícia. Quero pegar Floro Calheiro vivo. Ou então que ele se entregue, e pode ser com a ajuda até da imprensa". Estas são afirmações do secretário de Estado da Segurança Pública, João Eloy de Menezes, em entrevista exclusiva ao Cinform, depois da série de entrevistas, também exclusivas, dadas a este semanário pelo foragido da polícia e da Justiça de Sergipe.
Um dos mais bem preparados agentes policiais de Sergipe, o delegado João Eloy participou da investigação do assassinato do deputado Joaldo Barbosa e afirma que não viu indícios da participação de Floro neste crime. Ele diz desconhecer ainda qualquer trama para matar o foragido quando esteve preso na cela da 1ª Delegacia Metropolitana e não falou sobre o caso Motinha, porque será uma das testemunhas judiciais no julgamento.
João Eloy não reforçou sua segurança e se diz tranquilo quanto às possíveis ameaças feitas a sergipanos por Floro nas entrelinhas da entrevista ao Cinform. "Não me sinto ameaçado de jeito nenhum", garantiu. E sobre a entrevista de Floro ao Cinform? O que o secretário achou? De forma elegante, disse que a imprensa cumpriu seu papel. "Prefiro não me meter no trabalho da imprensa", ressaltou.
Cinform - Caiu mal para o senhor as referências boas que ele lhe fez, como a de que lhe deve a vida enquanto esteve preso?
João Eloy - Não me fez mal de forma nenhuma. Mas o que ele diz não é verdade. Eu era diretor do Cope e o secretário era o doutor Luiz Mendonça. Floro estava na 1ª Delegacia e no dia 23 de junho o doutor Flamarion (Dávila, advogado de Floro) me ligou dizendo que tinha recebido uma ligação de Floro que suspeitava que estariam tentando tirar a vida dele porque tinham tirado os presos e estavam tirando os policiais. Eu liguei pro coronel Iunes e pedi que uma equipe fosse averiguar o que acontecia. Esse é um procedimento natural. Não poderia aceitar qualquer crime dentro de uma instituição policial.
Cinform - O senhor sabia, mesmo, que havia um plano para matá-lo dentro da 1ª DM?
JE - Não tomei conhecimento de nenhum plano para matar Floro.
Cinform - O senhor tinha conhecimento de que Floro ficava com uma arma enquanto esteve preso na 1ª Delegacia?
JE - Eu era diretor do Cope e a Corregedoria da Polícia investigou isso e o inquérito deve estar na Justiça.
Cinform - O senhor telefonou para o coronel Iunes para reclamar da ausência de militares na Delegacia. O que teve como resposta? E por que o policiamento não foi reforçado?
JE - Depois que liguei pro coronel Iunes, o policiamento foi reforçado. Tanto é que não houve nenhum problema. Os procedimentos seguintes não sei. O doutor Flamarion me ligou porque eu conheço ele, já tinha trabalhado com ele, é pessoa decente. Pra mim, como policial, não existiu em Sergipe nenhum secretário de Segurança como Flamarion.
Cinform - Como homem público, o senhor vê motivos para aquela ira entre ele e o desembargador Luiz Mendonça?
JE - Como existe um mandado de prisão contra Floro Calheiros, cabe a Secretaria de Segurança Pública cumprir. Se existem problemas pessoais entre Floro Calheiros e o desembargador Luiz Mendonça, não cabe ao secretário se meter nisso. Mas, com relação ao mandado de prisão, cabe a qualquer policial no Estado de Sergipe.
Cinform - Por quais crimes existem mandados de prisão contra Floro Calheiros?
JE - Hoje existe mandando contra Floro pelo roubo das urnas em Canindé de São Francisco, pelo crime de Joaldo Barbosa e o atentado ao desembargador Luiz Mendonça.
Cinform - O senhor lembra de algum episódio em que Luiz Mendonça e Floro Calheiros tenham discutido em uma Delegacia em Sergipe?
JE - Nunca tomei conhecimento deste episódio.
Cinform - O Estado quer ele mesmo morto, ou o quer vivo?
JE - Morto, só se for a polícia de outro Estado. Porque a polícia de Sergipe, a que é comandada por João Eloy de Menezes, João Batista, Katarina Feitosa, coronel Aelson Resende e outros coordenadores e integrantes, não o quer morto. Queremos cumprir o mandando de prisão que existe contra ele. Isso não quer dizer que se ele atirar na polícia, nós não revidaremos. Se ele atirar, a polícia vai revidar com certeza. A polícia vai pra prendê-lo e ninguém o quer morto. Se ele quiser se entregar, que se entregue. Damos todas as garantias para ele. Eu quero pegar Floro vivo. Já prendemos duas vezes e vamos prender a terceira. Não temos nada contra ele. Por que queríamos matar Floro? Estamos a serviço de alguém? Não estamos a serviço de ninguém. Estávamos (no episódio de Minas) com quatro viaturas, armados com fuzil. Se fosse pra matar, teríamos matado. Queremos prender para que ele se apresente à Justiça e posso se defender. Temos condições para que ele se entregue e possa se defender na Justiça. Por que ele não se apresenta à polícia junto com a imprensa?
Cinform - Sempre quando foi preso Floro afirmou que queriam matá-lo e continua afirmando isto. É fantasia ou verdade?
JE - Tenho a dizer que nesta gestão temos o compromisso de prender Floro Calheiros, assim como a qualquer outro foragido. E não estamos a serviço de ninguém. Se ele tem problemas particulares, resolva os problemas particulares dele. Ele tem problemas com a Justiça e vamos cumprir o mandado de prisão. Mais cedo ou mais tarde vamos prendê-lo.
Cinform - O aparato de segurança pública de Sergipe tem noção de onde Floro Calheiros possa estar?
JE - Não vou lhe dar esta reposta. Estamos investigando e não posso dizer nem o dia e nem o horário que vamos prender Floro. A polícia de Sergipe e a Polícia Federal estão trabalhando em conjunto para prendê-lo.
Cinform - Como é que o senhor acha que a sociedade julga o embate dele com a Justiça e a polícia depois das exposições dele?
JE - Não vou avaliar se a sociedade apoia ou não essa exposição dele através da imprensa. O que eu tenho a dizer é que a polícia tem consciência do que estamos fazendo. Vamos cumprir o mandado de prisão contra ele, o sobrinho e o filho dele. A polícia de Sergipe não tem medo de ninguém. Enquanto existir mandando de prisão contra ele, que ele recorra, mas vamos cumprir.
Cinform - O que é que mais lhe chamou a atenção nas entrelinhas da entrevista?
JE - O que mais me chamou a atenção foi ele dizer que a polícia de Sergipe o quer morto. A polícia de Sergipe foi cumprir um mandado de prisão como já teve outras oportunidades que não vieram à tona. E vamos continuar tentando cumprir o mandado de prisão. A polícia de Sergipe esteve próximo, deu um tiro pra cima e ele revidou. Por que ele anda armado e com um pistoleiro do lado (o secretário refere-se a Billy que está preso acusado de participar do atentado contra o desembargador Luiz Mendonça)? Ele tem porte de arma? Ele é policial? Por que ele não se integrou à polícia de Divisa Alegre, ou à polícia da Bahia?
Cinform - De alguma forma, por onde Floro passa conta com a conivência de pessoas em outros Estados?
JE - Essa pergunta deve ser respondida pelos secretários de Segurança da Bahia, de Alagoas, de Pernambuco, de Minas Gerais, onde ela estava e estava armado.
Cinform - Como delegado, o senhor acredita na participação de Floro no assassinato do deputado Joaldo Barbosa?
JE - Na época eu participei das investigações, o presidente do inquérito foi o delegado Arquimedes Marques, a investigação aconteceu em conjunto no Cope com a Polícia Federal e chegamos à conclusão de que não havia indícios suficientes para o indiciá-lo. Mas isso não impede que o Ministério Público continue as investigações e descubra algo. Isso mostra o nosso profissionalismo. É uma prova de que não estamos a serviço nem de A e nem de B.
Cinform - O senhor vê indícios da participação de Floro no assassinato de Motinha?
JE - Eu me reservo a não responder isso, porque serei testemunha neste caso.
Cinform - O senhor se vê, e à sua família, no arco daquelas advertências de Floro Calheiros, de que não mexam com os familiares dele que ele não com os de ninguém?
JE - De jeito nenhum. Não me sinto ameaçado e respondo isso também pelos policiais. Faz parte da nossa profissão. Se Floro está mandando recado, não é pra polícia. Não estou me sentindo ameaçado de jeito nenhum.
Cinform - Diante de tais atitudes dele houve reforço na sua segurança, na do desembargador Luiz Mendonças e outras pessoas?
JE - A segurança do desembargador Luiz Mendonça já vem sendo reforçada. Floro não é tão doido para querer tentar isto de novo.
Cinform - Um dos comentários mais propalados depois da entrevista foi o de que o Cinform localizou Floro, mas a SSP não teve esta competência. Para o Cinform, esta é uma observação improcedente, posto que Floro não é um 'fugitivo de imprensa' e sim de polícia. Como é que o senhor vê este tipo comparação?
JE - Prefiro não me meter no trabalho da imprensa. A imprensa cumpriu seu papel neste caso. Já o prendemos duas vezes e vamos fazer pela terceira vez.
Cinform - Floro recapturado pela terceira vez, e sendo vivo, que tipo de atenção o Estado deve ter com ele para que não fuja também pela terceira vez?
JE - Quando ele estiver preso, ele será colocado à disposição da Justiça. Eu dou todas as garantias de vida a ele. Em Sergipe temos presídios seguros, mas o Judiciário sergipano é quem decide onde ele deve ficar preso.
Cinform - Cabe à polícia investigar a participação do Estado nas duas fugas de Floro?
JE - Tanto a fuga da 1ª Delegacia quanto o resgate do Hospital São Lucas foram investigados, mas se foram de forma correta ou incorreta cabe à Justiça e ao Ministério Público analisar. Os dois processos foram encaminhados pra Justiça e as providências estão sendo tomadas. O mandado de prisão do filho de Floro (Fábio Calheiros) foi por causa da investigação do resgate do Hospital São Lucas. O Ministério Público pediu novas diligências, solicitando ações referentes aos policiais envolvidos.
Cinform - Como homem de carreira na polícia, como é que o senhor se sente ao saber que por trás das duas fugas dele estavam entes do Estado, colegas seus da SSP?
JE - Se for comprovada a participação de policiais, vejo com muita tristeza. As Corregedorias das duas polícias investigaram. Eu não participei destas investigações, não tenho conhecimento dessa participação. Se ele deu dinheiro, ele vai ter de provar que deu. Ele diz que deu dinheiro as pessoas nestas duas fugas, então ele comprove que realmente deu dinheiro.
Cinform - Todas as respostas de Floro Calheiros apontavam-no como um bandido 'construído' pela polícia e pela Justiça. O senhor vê alguma ponta de lógica nestas visões dele?
JE - Numa investigação da Polícia Federal ele foi condenado no caso de roubo das urnas. A polícia trabalha apenas com fatos. Ninguém se torna bandido por causa da polícia. A coisa que eu mais critico dentro da polícia é quando se cria bode expiatório. Isso é coisa de investigador preguiçoso. Há muito tempo tudo o que acontecia em Sergipe era coisa de Marcos Capeta ou de Maluquinho. E nem tudo o que acontece hoje é Floro. Tivemos toda a cautela no caso do atentado. A imprensa se antecipou neste caso, fui criticado porque insistiam em acusar Floro, e eu pedia cautela porque existiam outras vertentes. Assumimos um possível desgaste, mas trabalhamos com profissionalismo. No dia do atentado a imprensa perguntou em quanto tempo eu iria apresentar o culpado. Nós trabalhamos de forma correta e extremamente profissional.
Cinform - A SSP sabia que Floro Calheiros estava em Petrolina, Pernambuco, durante a ação que prendeu Billy e Bezerra?
JE - Não. Sabíamos da presença apenas dos pistoleiros.
Cinform - Houve tortura contra Bille?
JE - Bille reagiu à prisão, estava com arma na cintura. Os policiais fortemente armados trabalharam de maneira correta. Como Billi reagiu, a polícia podia ter matado ele, mas não. Fez de maneira correta. Prova de que não participamos de grupo de extermínio, nós combatemos os grupos criminosos de extermínio.
Leia a entrevista.
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Foto: Ana Lícia Menezes