Uma Rosa no Natal e o seu perfume ...



Uma rosa a Paulo Bandeira 



Há uma mensagem beligerante pairando sobre Alagoas como uma fumaça suja, embotando a História, corrompendo a visão, confundindo o olfato. Só não consegue enganar os corações feridos das mães, das esposas, filhas e amantes, escolhidas por mim como símbolos do grito permanente, que em silêncio, não cala!

Inicio essa homenagem à memória do professor Paulo Henrique Bandeira, mártir da educação nessa terra que lidera os baixos índices de escolaridade no Brasil, expressando todo o respeito que sinto por aqueles e aquelas que continuam sua luta.

Contudo, já não precisamos de mártires! Infeliz da sociedade que ainda os gera! Infeliz do povo que aguarda pacificamente o próximo sacrifício! Mas a morte de Paulo foi mais que isso, foi uma prova cabal de que o poder atua sobre os corpos, subjuga e mata. Dessa forma, mantém o controle. Sufoca a denúncia. Será por isso que as instituições comumente falham na busca por culpados? Na punição dos mesmos?

O controle do corpo através da imposição da miséria, na aplicação da fome que dói e destroça a alma! O silenciador posto no revólver que dispara serve para silenciar as massas, tornando as coletividades omissas diante do crime, abalizando os motivos dos criminosos.

Agora, nesta sentida homenagem in memoriam peço licença a Paulo, para homenagear outros alagoanos que cometeram, assim como ele, o disparate de denunciar injustiças e corrupções:

Quando era criança ouvia minha mãe falar de um jovem filho de sua comadre Bertina, assassinado cruelmente embebido em calda de açúcar quente, por ter reclamado direitos trabalhistas a certo usineiro da época. Uma crueldade pouco comentada, levando vários outros trabalhadores a receber qualquer quantia paga, com muita gratidão! A esse anônimo mártir dos partidos de cana da região Norte de Alagoas, nossa tardia reverência!

No mês do meu aniversário, outubro, outro crime revela a pontualidade da morte encomendada na Terra dos Marechais, e o tributarista Silvio Viana parte para a espiritualidade sem terminar o que começou. Seu nome foi dado a uma bela avenida, por onde circulam os carros de luxo dos seus matadores. Desconhecidos? Certo mesmo é que todos sabem o porquê o jovem profissional da área de tributação morreu. Alagoas acolhe seu sangue, o silêncio protege os mandatários.

Em São Luiz do Quitunde um jovem idealista é assassinado por um motoqueiro, corriqueiramente. Recordo o quitundense Geraldo, seus olhos claros e a boca cheia de indignação, falando do melhor sonhado, as vias da política partidária (supostamente democráticas) lhe pareciam sempre atraentes, um espaço legítimo de cidadania, mas teve esse direito negado. O poder da impunidade lhe subjugou o corpo, calou a voz, dribla a justiça que parece tentar entender, tentar provar…

Volto ao princípio, porque no fundo, sinto medo de continuar escrevendo sobre isso, pois quando mandam matar os sonhadores, os idealistas, os comprometidos, os trabalhadores, os militantes, a impunidade parece crescer mais do que quando matam “apenas” os jovens miseráveis.

Ainda assim, oro a Deus por eles! Se ainda estivessem aqui Alagoas estaria mais viva, mais bela! Mas eles voltaram ao céu, e nós que aqui ficamos o que faremos para não deixá-los morrer? Até quando Alagoas produzirá mártires e criminosos impunes?



Comentário:

Um belo e educativo artigo da socióloga Ana Cláudia Laurindo, esposa de Odilon Rios e mãe de José Alexystaine Laurindo, que foi brutalmente assassinado no dia 22 de novembro de 2010  pela  mão da impunidade  reinante e matriarca de todos os crimes .

O texto trás com extrema clareza a  descrição fiel da  estrutura "social"  predominante no Estado de Alagoas.

Agora  sou eu que peço, licença a Ana Cláudia para vir à baila uma história que meu pai sempre  me contava sobre o enriquecimento de muitos senhores feudais de nossa terra, que pelo óbvio, não citarei nomes !

Um dia meu pai me contou que muitas terras em Alagoas  foram incorporadas ao patrimônio de poucos através de diversas condutas imorais,que dentre elas recordo-me de uma que o senhor feudal mandava o capanga  oferecer uma quantia irrisória aos pequenos proprietários . Havia sempre a recusa na venda, como era de se esperar já que se  valia milhões  porque receber  a oferta de migalhas ? Pois bem ,na "oferta " também existia aquele tom intimidatório  que o capanga sempre dizia: " Você conhece bem o Coronel, acho melhor aceitar, senão .......! No outro dia não havia nenhuma notícia do coitado, tinha zarpado na calada da madrugada  deixando para trás todo o fruto do seu trabalho, agora pronto para receber em cartório um novo dono !

Foi   por essa e  tantas outras  mazelas, que na falta da justiça,  vários  inocentes  encontraram  a morte !

Alguém tem dúvida ?

Voltando ao artigo em homenagem a Paulo Bandeira , acho que por conhecer profundamente o cerne social,a professora e  socióloga Ana Cláudia Laurindo em seu último parágrafo  me parece  que já antevia o momento atual de profunda dor e sofrimento que a família vem passando junto  aos  amigos,quando escreveu : "e nós que aqui ficamos o que faremos para não deixá-los morrer? Até quando Alagoas produzirá mártires e criminosos impunes? "

Em outro artigo de Ana Cláudia,Natal para Alguns  com data de 28 de novembro de 2008 chama atenção a preocupação da cientista com o drama que  vem corroendo a sociedade Alagoana diuturnamente , que é o flagelo das drogas,dos crimes  que são cometidos por alunos,das mortes de seus filhos que levam sofrimento às  mães. principalmente no Natal uma data tão importante do calendário cristão. Vejamos  então o que ela escreveu:

"O riso de alguns atravessa o tempo no mesmo instante que outros se derramam em prantos! Não será festa para todos...
Não será festa para as mães que choram de saudade dos filhos e filhas perdidos para a violência"

Após concluir a leitura dos dois artigos fiquei a pensar e a meditar  se eles realmente seriam, a antevisão  dos fatos ocorridos  recentemente  ou   simplesmente  seriam  frutos  do  mistério afetivo que somente o coração de  uma mãe  pode sentir e decifrar ?   Eu mesmo  tive uma querida e inesquecível   mãe,e conhecia  muito bem as suas premonições ! Havia uma ligação amorosa , que fazia eu sentir e vice versa as alegrias,os desejos, as melancolias,  o perfume no ar e o pulsar do coração a cada instante que o meu pensamento voltava a face daquela que sempre será a minha inesquecível e amada mãe.Possuo o mesmo nome , sobrenome só que no masculino ! Precisa mais exemplos  para justificar  minha união com a sua alma ?

Sinto  transpirar a mesma afetividade que eu tinha com a minha família, presente entre os familiares de Alexystaine ou melhor  Taine, eu vi escrito em uma página da internet ,  essa  maneira  carinhosa como  a família e seus amigos tratavam aquele menino .Vi também diversos depoimentos de seus amigos, e principalmente da Jéssica que escreveu :" Essa noite o meu bebezinho lindo veio me visitar por sonho ;)
e ele tava tao feliz... sorridente como sempre  ...   Essa saudade nao ira diminuir jamais =/
Eternamente amiigos ate no CEU
Te amoo bebezinho lindoo ♥
         " !  "    (Ipsis Litteris )




Taine teve  a sua breve  vida   ceifada  brutalmente , e se tornou   mais um  mártir do sistema  genuínamente coronelóide e ignóbil  da terra caeté , onde  moram os jagunços  de gravatas  que ostentam títulos e trafegam  nos corredores de palácios,com carta branca  outorgada pela omissão  com a missão de extinguir os sonhos .

Foi assim, que em 22 de novembro de 2010   o pesadelo fez  morada no seio de uma família  e destruiu as fantasias de uma jovem vida ,pelo desferir  mortal  de um  dos braços  que o  poder maléfico  e  sua transfinita genealogia  possuem  em território Alagoano.


A  estrada  que o destino  reservou  para  a mão dos assassinos  , também foi a mesma que levou a sociedade a caminhar na omissão e no esquecimento dos Direitos Humanos  .

 Por que  vocês ainda seguem essa estrada ?! Aonde o  sombrio caminho  o levará ? Uma voz  abruptamente responde as indagações ; é  a consciência  na alma de todos nós   a bradar : Vejam !Vejam ! A sua última parada é a estação na terra dos Martírios,observem quantos martíres ajudamos a  trazer para ela quando calamos,negligenciamos,omitimos a justiça por medo,por vantagens,pela luxúria do poder !

Que rincão mal amado pela justeza e bem amado pelos maus que se multiplicam como um vírus !


 Alexystaine,perdoa-nos enquanto sociedade somos ,e pela nossa falta ou excesso de teodiceia

Nos parcos anos de   vida , somente recebestes  do cruel destino : Tortura,humilhação,injúria e assassinato !
Que você hoje possa  esquecer os espinhos, ao inspirar o  perfume emanado das rosas,meu pequeno grande menino.

Mário Augusto



Odilon e Cláudia ,como eu já havia escrito em um e-mail , a melhor forma de ser eterno é ser lembrado. Recordar é manter vivo  os  sonhos, é pulsar um coração ,é amar ,é viver , é vencer a morte e ser infinito !

Que Deus seja sempre a luz, o caminho e a verdade na vida de sua família
carinho aos amigos

Mário Augusto e família

Leia outros artigos :

Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo administrador.