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O Olhar Diário de uma Enfermeira do Hospital Geral do Estado de Alagoas, sobre Humanização no SUS

E-mail, recebido da Enfermeira Leila Morais e autorizado sua publicação.

Aos colegas de trabalho, HGE.

A vocês, obrigada, pela oportunidade de estar convivendo nesta instituição e poder dizer em 1 ano (01.11.2008) exatamente; que nunca trabalhei em um hospital que com certeza tem tudo para dar certo, entretanto faltam normas, rotinas, capacitação e investimentos de pessoal. Precisamos ter regras e limites; hoje o desenho já não é mais José Carneiro ou UE, somos HGE (referência para um Estado), mas continuamos na mesma prática de 29 anos atrás.

Analise e Sugestões

1º. O corpo funcional, (médicos, enfermeiros, aux. de enfermagem, etc.) desconhece o protocolo vigente, reconhece as cores por não serem daltônicos, mas não sabe pra que e por que elas existem.

Sugestão: Seminários com apresentação do novo modelo, destacando exemplos de outros Estados, como é o caso de MG, convidando integrantes do Humaniza SUS, Política Nacional de humanização (PNH)/MS. Com isso, podemos ter uma equipe afinada de pensamentos homogêneos e comprometida com a qualidade de saúde.

2º. Devemos construir normas e rotinas, pautadas sempre na relação:

Nº de pacientes ou usuários x profissionais. Conforme orientação de indicadores de gestão hospitalar.

Comentário: O profissional médico (CM) atende em 6h + de 30 pacientes. Isso é assistência? Tudo é motivo de internação! inclusive TB pulmonar (3+), onde o paciente é internado para afogar o bacilo de Koch em inúmeras prescrições de soro glicosado a 5% + soro fisiológico. Não somos referência para TB, não temos garantia da medicação, visto que, o hospital de doenças infecto contagioso é o HEHA, e que a legislação do MS – Portaria 147/GM é clara, quando fala que o portador de TB deve ser tratado em seu domicílio, supervisionado pela equipe de saúde da família, DOTS (Tratamento supervisionado ou diretamente observado).

O auxiliar e Técnico de Enfermagem, “assiste”, ou seja, olha 32 pacientes no corredor. Entre soro, medicação, abastecimento do setor,aferição de algumas pressões arteriais, troca de lençóis (quando os têm) e higienização do paciente quando o mau cheiro de urina e fezes estão insuportáveis.


E a enfermeira, que gasta suas 12h do plantão para resolver problemas como vagas em outro setor para transferência do paciente, ligação para o médico de sobre aviso, procurar o clínico de plantão para prescrever a medicação que o neurologista não fez, resolver aonde colocar ou conter o paciente psiquiátrico ou de rua, confortar a família em caso de óbito, enquanto o som grita desesperadamente pelo psicólogo, ouvir reclamações de médicos quando invade um consultório para fazer uma lavagem intestinal, quando temos salas fechadas no ambulatório. Será que o papel da Enfermeira, é esse? Lógico que não, estamos desperdiçando uma mão de obra especializada e cara para esse fim.

Sugestão: É necessário expor essas mazelas para os funcionários, destacando o tempo perdido e conseqüentemente a má qualidade de atendimento à nossa população.

Construir um modelo humanizado em forma de colônia, onde indivíduos unidos atuam em conjunto e repartem funções.

É necessário acordar a CCIH, com proposta de retroalimentação para a direção e corpo funcional e implantar com urgência a Epidemiologia em âmbito hospitalar, tendo como resultado uma ferramenta preciosa na tomada de decisões do gestor, avaliando sempre o perfil da instituição e utilizando os indicadores de gestão hospitalar para solucionar problemas e proporcionar à rede de saúde (epidemiologia/SESAU) as notificações das doenças compulsórias.

Não é difícil, pode ser trabalhoso. O pior de tudo é o cansaço de não fazer o que é certo e ver a solução no que é possível, e vê que está sendo dado à oportunidade de melhorar problemas crônicos, deste sistema (lindo no papel) que é o SUS.


Enfermeira Leila Morais
Hospital Geral do Estado de Alagoas

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