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As Belas Artes da Medicina : A doença na pintura de Evard Munch



A doença na pintura de munch


As doenças moldaram a maneira de Evard Munch (1863-1944) ver o mundo e, obviamente, influenciaram a evolução artística do pintor, nascido em Oslo, Noruega. São dele, entre outras, as obras Melancolia (1895) e O Leito da Morte (1895).
Porém, de todas as doenças com as quais conviveu, nitidamente a que mais marcou Munch foi a tuberculose pulmonar que matou sua irmã Sophie, em 1877, quando ela tinha apenas 15 anos de idade e ele 14 . O fato em si já é dramático para qualquer pessoa, mas no caso de Munch havia um precedente: sua mãe, Laura Cathrine,fora vítima da mesma doença quando ele tinha cinco anos de idade, em 1868. Munch percebeu então quão devastadora e freqüente era aquela doença.
A expressão artística do sofrimento de Munch diante do falecimento de Sophie deu-se por meio de uma tela intitulada A Criança Doente (1886).O enorme travesseiro no qual ela se recosta foi uma repetição dos travesseiros pintados por seu mestre Christian Krohg (1852-1925), o mais importante pintor norueguês até Munch.Esse detalhe pode ser conferido nas obras A Criança Doente (1881) e A Mãe à Cabeceira da Criança Doente (1884). É interessante registrar que Krohg, nesses dois quadros, também pintou a doença mortal de sua própria irmã.


A Criança Doente (1886).Edvard Munch (1863-1944).Óleo sobre tela, 119.5 x 118.5cm. Galeria Nacional ( Oslo)



O travesseiro no quadro de Munch, propositadamente branco, forma uma moldura em torno da cabeça de Sophie, lembrando
um halo quadrilátero de pureza. Na verdade, a luz Trota travesseiro. Podemos dizer ainda que essa imagem lembra a porta que emoldura a cabeça do Cristo na Santa Cela (A Ultima Ceia, 1497), de Leonardo da Vinci(Milão).


A Criança Doente (1881).Christian Krohg (1852-1925).Óleo sobre tela, 102 x 58 cm.Galeria Nacional ( Oslo)



Enquanto a irmã de Krohg se despede da vida olhando para o espectador e despetalando uma flor, como se a vida estivesse aos poucos se extinguindo, Sophie dá um último olhar contemplativo para sua tia e mãe adotivas, Karen Bjolstad. Sabe-se que, em algumas versões dessa tela, Munch usou a amiga Betzy Nielsen como modelo para Sophie.
O quadro suscitou debates e discussões inflamadíssimas quando de sua apresentação na Exposição de Artes de Oslo, cidade então chamada Christiania: o quadro mais parecia um esboço do que uma obra concluída. Isso porque Munch usou a tinta bastante diluída. Apesar - ou por causa - da polêmica, o quadro se tornou um sucesso, o que levou Munch, a partir de 1901, a deliberadamente usar a tinta diluída como modo de se expressar em pintura.
Em 1889, convalescendo de uma debilitante enfermidade, ele pintou a tela Primavera, obra autobiográfica onde Munch recorda a doença da irmã. Esse quadro teve como inspiração a pintura já citada A Mãe à Cabeceira da Crian,ca Doente. Munch estava então com 26 anos, ou seja, haviam se passado 12 anos do falecimento de Sophie, eo medo da morte o motivou a relembrar aquele triste episódio.O travesseiro agora é iluminado pelo sol que invade a janela açoitada pelo vento.


Primavera (1889).Edvard Much (1863_1944).Óleo sobre tela , 169 x 263.5 cm Galeria Nacional (Oslo)


Auto-Retrato com Esqueleto do Braço (1895)Edvard Munch (1863-1944).Litografia, 60 x 20cm. Museu Munch (Oslo)



Em 1893, Munch pinta o quadro intitulado Madona e o exibe.pela primeira vez ao público usando uma moldura decorada com espermatozóides e fetos abortados, pintados e entalhados, simbolizando a concepção e a morte. A moldura, chocante e polêmica, foram retiradas do quadro e até hoje não se sabe de seu paradeiro. Ainda em 1893, ele pinta seu mais famoso quadro, O Grito, que originou aproximadamente cinqüenta versões. A obra reflete o sofrimento mental pelo qual estava passando Munch em conseqüência de sua vida marcada pelas doencas.
Ainda traumatizado pela polêmica surtida com o episódio da moldura que enquadrava a Madona, em 1895 Munch faz seu auto-retrato usando a técnica da litografia e o intitula Auto-Retrato com Esqueleto do Braço. Aqui, os ossos do antebraço e d a mão são dispostos de modo a lembrar a parte inferior da moldura censurada em 1893.
Em Morte no Quarto da Doente (1895), o pintor procura chamar a atenção para o aspecto torturante e claustrofóbico do quarto onde se encontra uma doente grave. As duas irmãs de Munch, Inger, que aparece de pé, e Laura Munch, sentada, são claramente reconhecíveis no primeiro plano. O artista está virado de costas para a paciente, como a renegar a tragédia que se faz presente. O pai, Christian, e a tia Karen estão de pé junto à cadeira próxima à cama. A personagem masculina de costas para quem olha o quadro, e que está de frente para a cama, é provavelmente Andreas, o irmão de Munch. Talvez a cena seja uma lembrança damorte da irmã, mas com as pessoas de sua familia retratadas na idade adulta. A pessoa à beira da morte está sentada na cadeira de vime, cujo espaldar alto, junto com o travesseiro, impede que ela seja identificada.


Morte no Quarto da Doente (1895).Edvad Munch (1863-1944).Óleo sobre tela 150 x 167.5 cm Gaelria Nacional (Oslo)




Trinta e um anos depois do falecimento da mãe, Munch pinta A Mãe Morta e a Criança (1899). De um lado da cama estão os membros adultos de sua família, impotentes em face da morte; no primeiro plano diante da cama encontra-se Sophie, tapando os ouvidos com as mãos para não ouvir o grito silencioso da morte chamando-a. A irmã repete o gesto imortalizado na tela O Grito, que veremos mais adiante, e que aparece novamente na obra A Mãe Morta e a Criança, de 1900.


A Mãe morta e a criança (1899). Edvard Munch (1863-1944). Óleo sobre tela, 104.5 x 179.5 cm. Museu Munch (Oslo)


A Mãe Morta e a criaça (1900). Edvard Munch (1863-1944). Óleo sobre tela , 100 x 90 cm. Museu Kunsthalle (Bremen)



Munch pintou retratos de algumas pessoas importantes, dentre as quais destaca-se o oftalmologista Dr. Max Linde (1862-1940). O artista o conheceu em 1903 e pintou quadros para o quarto dos filhos dele. Além de médico, Linde era colecionador de obras de arte. Em 1925, passando por dificuldades financeiras, o oftalmologista decide vender a sua expressiva coleção de arte contemporânea. Desfaz-se então de vários quadros de Munch, adquiridos em sua maioria por museus alemães. Expostos nesses museus, os quadros de Munch tornam-se finalmente conhecidos e valorizados.
Internado por seis meses, em 1908, na clínica do Dr.Jacobson, em Copenhagen, para se tratar de esgotamento nervoso, Munch pinta a enfermeira que o assistiu, de maneira semelhante a van Gogh, que pintou o enfermeiro Tratuc (1889) quando de sua internação na clínica de Saint-Rémy-de-Provence (França).
Em 1919, convalescente da gripe espanhola, Munch decide registrar aquele momento pintando o Auto-Retrato Depois da Gripe Espanhola. Neste auto-retrato é visível a semelhança com a fisionomia retratada em O Grito. Cabe aqui uma curiosidade histórica: a vítima mais importante da gripe espanhola no Brasil foi o presidente da República Rodrigues Alves. Eleito para o cargo pela segunda vez, não pôde tomar posse e morreu no dia 16 de janeiro de 1919. Os médicos, não sabendo o que prescrever contra o vírus, receitavam canja de galinha. O resultado foram saques a feiras, granjas e mercados atrás de frangos. Cerca de 300 mil pessoas morreram no Brasil durante a epidemia.
Perto de morrer, Munch sentencia: "A vida representa uma vitória temporária sobre a força da gravidade; mantemo-nos erguidos de pé, mas um dia temos de nos deitar para morrer."
O grande pintor norueguês parou de pintar em 1936 por causa de uma grave enfermidade ocular.





Auto-Retrato Depois da Gripe Espanhola (1919).Edvard Munch (1863-1944).Óleo sobre tela, 105.5 x 131 cm Galeria Nacional (Oslo)

Fonte:CFM

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